História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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ficavam mais desfalecidos deles, e por isso ao outro dia o general teve de acudir com providências para que o inimigo não lhe fizesse por mar algum dano.Entendendo então que suas forças eram mui diminutas para entrar o castelo à viva força, tanto mais quanto não aparecia o navio Enckhuysen, que continha soldados e muitas munições de guerra, e que com a perda de tantos bateis o inimigo dispunha agora de pequenas embarcações, com que doravante mui difícil seria impedir que da ilha levassem provisões ao castelo, e enfim que os governadores espanhóis das praças vizinhas poriam todo o seu cuidado em acudir aos sitiados, ao passo que ele não podia esperar socorros da Republica senão muito tarde, quando entretanto sofriam as suas tropas perdas diárias, pareceu-lhe prudente mudar de propósito em tempo, e abandonar a praça, em quanto o podia fazer com honra e sem perdas consideráveis. Quando veio pois ao dia 19, mandou embarcar algumas fazendas, e particularmente duas peças de bronze tomadas ao inimigo. A 21 mandou uma carta ao governador do castelo, em que lhe perguntava se queria resgatar a cidade, e livrá-la de completa ruína, ao que respondeu ele que "havia na ilha pedras e madeira bastante para reedificá-la, e que fazia tenção de haver barato a nossa frota." Neste dia foi embarcado tudo o mais, de modo que só a tropa ficou em terra, a qual a 22 abalou em boa ordem para se recolher aos navios, como se recolheu depois de haver posto fogo a todos os ângulos da cidade. Ao seguinte dia queimaram os navios do inimigo, que estavam varados na praia. Ao partirem da cidade, não lhes fez o inimigo empecilho algum, conquanto a partida tivesse lugar dia claro; mas, tanto que os espanhóis tornaram a ela, levantaram uma bateria na ponta da cidade, e a 24 começaram a jogar o canhão contra os nossos navios, fazendo neles algum estrago, o que forçou os nossos a levarem os seus navios à tôa um pedaço. Mas ao seguinte dia o inimigo assentou a sua artilharia em outro sítio, e forçou os nossos a levarem mais para diante os navios. A 26 entrou um navio espanhol, e deu fundo ao abrigo da artilharia inimiga, pelo que os nossos não puderam ir buscá-lo. Ao outro dia o general mandou que os pilotos fossem sondar e balizar a barra, e isto feito, ficou tudo prestes para a partida; o vento porém o não serviu, e deteve a armada no porto. Para neste entretanto trazer a sua gente ocupada, o general fez uma entrada no lado oposto ao da cidade, mas não encontrou ninguém. Na entrada de Novembro era o vento leste, e ao meio-dia susudeste, vento feito, de sorte que o general fez o sinal de levar ancoras e dar à vela. A vice-almiranta, que ia na frente, encalhou; o general ordenou que os navios alugados saíssem. Ao outro dia, como foi posta a nado a vice-almiranta, toda a armada, depois do meio-dia, deu à vela com vento leste quase ponteiro, e saiu com exceção do navio Medenblick, que veio a encalhar. Todos os navios estavam tão maltratados do canhão inimigo, que, sendo ao mar, meteram o leme a sotavento para tomar as águas, e reparar os mastros, vergas e enxárcias ; o navio do general recebera treze tiros, já debaixo da água, já ao lume dela, um dos quais lhe levara onze pés da precinta, e não foi pequeno o trabalho, que teve, para tapar