História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

enchente apanhava os seus navios para os baixos, que demoram A banda ocidental da Bahia, o que forçou os nossos a desferrarem as velas grandes. Tendo assim passado estes baixos, o nosso general deu volta saindo ao encontro do inimigo, mas este virou também de bordo em demanda da cidade. Um dos seus galeões deu nos baixos, desarvorou-se o seu mastro grande, saltou o leme, que ficou mui danificado. A maré também puxava os nossos navios, que assim navegavam, para os ditos baixos, pelo que deitaram ancoras ao mar, tendo as velas soltas, e a costa a sotavento, o que não foi sem grande perigo; mas sobrevindo logo depois a maré-vazante, os nossos deram de novo à vela, sem haverem sofrido dano. Sobre a noite puderam ver que a maior parte dos navios inimigos ainda velejavam, cruzando em volta e perto das baterias. E com quanto os navios inimigos fossem mais de cinqüenta, os nossos seriam contentes de vê-los saírem ao mar, para os poder acometer; mas parece que o inimigo não fazia tenção de vir às mãos com os nossos, se o não fossem buscar.O general deu fundo, mas, como surgira perto de costa a sotavento, pela madrugada na conjuntura da maré vazante deu à vela, e caminhou ao sul franco até ao dia. Ao meio-dia não estava longe da ponta do morro de S. Paulo, aonde mandou quatro iates para verem se era possível entrar ali a armada, se havia surgidouro capaz, bem como se podia obter refrescos, que andavam mui necessitados deles os doentes. De volta, a gente destes iates lhe disse que o surgidouro tinha capacidade para onze ou doze navios, mas não para toda a armada, e que os navios podiam entrar à vontade, sair porém era mais difícil, porque, uma vez metidos dentro no porto, eram como em um covo. Depois do meio-dia o general deu volta, e caminhou ao norte franco até sair-lhe o parcel de Santo Antonio; tornou a virar de bordo, e caminhou ao sul. À seguinte manhã estava outra vez acercado da ponta do morro de S. Paulo, pois à noite não botara caminho algum fez força de velas, mas o mar estava cavado, e parecia impossível alongar-se da costa fez-se na volta do nordeste sem emarar-se, e esteve a cruzar perto da Bahia, onde o inimigo facilmente podia ver a nossa armada. Começava esta a sentir falta de água; muitos adoeceram, alguns morreram. Tendo assim velejado o dia inteiro, sobre a noite o general era cousa de duas léguas acima da ponta de Santo Antonio e tornou a caminhar ao sul. Ao outro dia saltou com ele uma tormenta com muita negridão do tempo, o vento soprava às lufadas, uma atrás das outras, mas por volta de meio-dia começou o tempo a acalmar. O general fez o sinal de juntar-se em seu bordo o conselho geral. O vento era travessão sobre a costa, e não se podendo servir dele, deixou-se caminhar ao sul franco, e depois deu volta, e caminhou ao rumo do nordeste. Ao outro dia tornou a navegar pela derrota do sul, e à noite pela de leste, com tempo mui borrascoso. A 2 de Junho tomou um barco da carreira com carga de farinha de fromento e mandioca, procedente de Pernambuco, por cujos tripulantes soube que a nossa gente, havia algumas semanas, tinha entregue vergonhosamente a cidade de S. Salvador. A 3 o vento começou a alargar-se um pouco mais, com que o general pôde deitar caminho pela derrota do