História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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um recife, que, em distancia de meia légua de terra, corre duas de longo da costa. À tardinha viu o Monte Christo, que calculou distar dez léguas da Bahia Isabel, e passou a noite surto debaixo de velas. À seguinte manhã governou para Monte Cristo, aonde mandou o batel, e caminhou de longo dos parceis para a ponta ocidental da baía, em que demora o porto Francês; sobre-vindo a noite, teve de se pôr à capa. Ao romper do sol viu que fora impelido ao oeste, e singrou para a ilhazinha Tortuga, onde deu fundo antes de anoitecer. Esta ilha, segundo calculou, fica distante de Monte Cristo obra de dezoito léguas; o porto demora pouco mais ou menos no meio dela. Vindo de leste, tende-vos um tiro de colubrina apartado de terra, e governai ao longo do recife, que bota muito ao mar; há ali um passo entre dois baixos, entrai de ló chegando-vos para o que está a barlavento por quatro e meia braças de água, meio tiro de mosquete apartado do ponto; em que as águas rebentam em flor, onde há somente três e quatro pés, e dai fundo em distancia de um tiro de mosquete de terra em cinco braças. No último de Janeiro juntou-se o batel com ele, o qual de caminho observara todos os sítios, e nada vira. Ao outro dia, pelas três da madrugada, o Commanandeur passou-se no batel para o cabo de S. Nicolau, para de caminho visitar os portos e rios; esteve em três rios grandes, mas não viu barco algum nem gente. Seguia-o o navio, e à tardinha, obra de duas léguas a leste do dito cabo, voltou a bordo com alguns porcos, e navegou toda a noite com pouco vento. Pela manhã tinha o cabo ao lado; governou ao sul quarta a sudeste para a ponta ocidental da ilha Guanabo, mas não pôde tomá-la por causa da calmaria.A 3 estava obra de cinco léguas ao oeste de Guanabo; enfim aportou nesta ilha à banda ocidental. Passou-se no batel a terra, mas nada achou, e sobre a noite voltou a bordo. Levou ancora, e governou ao sudoeste quarta a oeste para Vallederis, mas não pôde chegar lá. Pela manhã mandou adiante o batel e a canoa para a baía, e nela surgiu sobre a noite no seu navio. O batel encontrara um barcozinho com tartarugas, cuja gente fugira na canoa para Caymito para lá foram mandados o barco e o batel que acharam a canoa, mas não a gente, que se havia posto em salvo; a 6 levaram a canoa ao navio. O Commandeur determinou seguir sem mais delonga para Laguna, e ao outro dia surgiu na ilha Guana. A 8 meteu vinte e cinco homens bem armados no barco, e com eles foi ter a ponta de Laguna, que fica obra de cinco léguas a leste da ilha Guana. Ao outro dia desembarcou com vinte homens, e dirigiu-se ao povoado, que ali têm os espanhóis; e pelas oito da manhã chegou às casas, que estão duas léguas dentro do sertão. Os moradores, em sentindo os nossos, se lançaram à monte. O Commandeur encontrou trezentos couros e uma porção de cassia[^nota-24] neste mesmo dia mandou para bordo oitenta couros, e cousa de setecentas libras de cassia, o que não foi sem muito trabalho e perigo da nossa gente, pois aquele sítio distava da costa seguramente três horas de viagem. A 10 o navio juntou-se com ele: não havia achado cousa alguma em Guana. Depois trabalharam por levar os couros, mas tinham os pés tão pisados, que já não podiam caminhar, e por isso queimaram o resto da courama. A 14 sobre a noite o Commandeur se fez à vela para Alcahaya,