História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

Página 69


guarnição, mas que essas minas jaziam algumas quinze ou dezesseis léguas mais para baixo, e não estavam exploradas. O alferes ficou a bordo em segurança da nossa gente, que fora à terra; o mesmo capitão à tarde veio a bordo, e prometeu-nos tudo o gasalhado, pelo que o Commandeur o deixou tornar-se à terra. Com pouco dinheiro houveram refrescos, e muito boa água, que o capitão mandou os seus negros trazerem à praia. Os soldados tinham falta de tudo, e particularmente de vestidos. Por eles soube o Commandeur que na baía de S. Francisco, algumas cinco léguas acima desta, havia um monte de sal, assim abundante de sal gema, que todos os navios da Europa o não poderiam transportar; que este sal era mui apetecido em Loanda, posto não fosse tão bom como o de Portugal. Denominaram esta baía dos Touros; a das Vacas está cousa de três léguas mais acima. Altura 12º 20'. Em terra havia muito gado, mas não couros secos. A 11 o Commandeur mandou o iate Bruyun-Visch procurar o outro iate e o barco tomado, e de caminho informar-se da situação daquele sal; mas sobre a tarde tornaram o Thonijn e o barco, que haviam tomado um navio procedente de Pernambuco, carregado de toda a sorte de mercadorias. Mandou o Commandeur que, os dois iates e as duas velas tomadas se fossem a uma baía, que demora quatro léguas abaixo desta, para fazer concertos e tomar água; seguiu-os lambem no seu navio, e a 13 ancoraram todos em dita baía. Ao outro dia viram duas velas estrangeiras no mar, à qual se foram os dois iates e a presa antiga. No entretanto seguiu o Commandeur no seu navio, acompanhado da ultima presa, para a baía de Catambala (Catumbela), onde a 15 os iates se juntaram com ele. Haviam rendido uma fusta, que tomara carga de vinho na ilha da Palma, e um naviozinho com carga de farinha, que partira de S. Paulo em demanda da Baía, onde os nossos estiveram. Esta baía de Catambala é mui formosa, surge-se nela como em rio morto ; está situada na altura de 12º 15'. A 22 mandou o naviozinho carregado de farinha e outros gêneros à baía dos Touros para mantimento do capitão, que em retorno lhe forneceria doze cabeças de gado, seis carneiros, dois porcos, galinhas e outros refrescos. Pôs um capitão na fusta S. Juan Baptista, e esbulhou o naviozinho tornado em Cachou, porque fazia muita água, e já se não podia ter boiante. Mandou para baixo a sobredita fusta com todas as mercadorias, a cargo do comissário Adriaen Vrancken, para o efeito de serem vendidas; partiu ela na entrada de Junho. A 5 o Commandeur fez-se também à vela, caminho direito de Luanda. Ai estava junto do cabo S. Braz em altura de 10° 31'. Este cabo é alto e inclinado, de longe parece talhado a pique; um pouco ao norte dele há um farilhão alto, negro e pontudo. Ao seguinte dia o Commandeur estaria duas léguas arredado da costa; a terra era igual e não levantada. Viu uma grande enseada, e para o norte, ao longe, terras baixas com quebradas. Ao meio-dia 10º 18' de altura. Depois do meio-dia, chegou ao rio de Tongo; a 19 ao cabo Ledo, que é escarpado. Aqui tomaram os nossos um patacho vazio, procedente de S. Paulo com quatro Portugueses e dez negros; foi queimado. À tarde era o Commandeur junto do rio de Coanza, onde furam tomados três patachos, e varados dois na costa, que