História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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achavam dez jesuítas com o seu provincial, dois frades franciscanos e dois beneditinos; continha mais sete mil piastras (Realen van achten), e quarenta caixas de açúcar; a 29 um barco com vinte e seis caixas de açúcar: no dia 1º de Julho um navio procedente de Angola com duzentos e vinte negros. E porque bem viam os nossos que, em quanto não se propalasse geralmente a nova da conquista ela praça, mais navios entrariam na Baía, mantiveram fora da barra e em suas cercanias, dois navios, um iate e duas chalupas de vela, de vigia aos navios e barcos inimigos, que demandassem terra. A 4 o navio Vos, estando bem carregado, foi expedido para a Republica, onde trazia a boa nova da conquista da cidade de S. Salvador e fortes adjacentes. No mesmo dia ia a entrar na Baía um navio procedente de Portugal, mas os tripulantes, entendendo que os nossos eram senhores da cidade, deram com ele na praia, e depois de pôr-lhe fogo, fugiram para o interior da terra. Porém a 11 entrou outro carregado de vinho, e foi tomado pelos nossos.À noite do seguinte dia, o governador, tencionando fazer um salto no morro de S. Paulo em certo sitio, que observara, mandou embarcarem-se quatrocentos homens, entre soldados e marinheiros, em dois iates e quatro chalupas; mas terçou-lhe tão mal o tempo, que teve de adiar a empresa, e recolher-se à Bahia.Neste interim, o inimigo, que parece ter tido notícia da expedição do governador, pelas duas horas da madrugada chegou-se às muralhas da cidade com um grande número de soldados, negros e indígenas. As sentinelas deram fé deles, e atiraram, com que tomou a cidade um grande rebate. Não se retiraram porém os inimigos, antes entraram a atirar furiosos com arcabuzes e arcos, sendo correspondidos pelos mosquetes e artilharia grossa dos nossos. Este combate durou até depois do meio-dia. A este tempo tornava o governador da sua malograda expedição, e, ouvindo os tiros, saiu em terra com a sua gente entre o forte de Santo Antonio e a cidade, fazendo tenção de surpreender o inimigo pela retaguarda; mas este, sabendo da sua chegada, pôs-se em fugida, e deixou no campo oito ou nove mortos. Dos nossos morreram também dons ou três.A 17, depois do meio-dia, saiu da cidade o governador com alguns cinqüenta homens, assim de pé como de cavalo, para visitar pessoalmente e observar mais de perto os caminhos e sítios vizinhos, pelo fundamento que fazia de não encontrar então inimigos por esses lugares. Mas, como cavalgasse um pouco a parte dos seus, ainda não se havia afastado das muralhas mais de um tiro de colubrina, e já os indígenas, que estavam escondidos nos bosques e nos manos, surdiam inopinadamente, e com flechas e armas de arremesso assim mal feriram o valente cabo, que caiu do cavalo, e logo eles lhe cortaram a cabeça, e ofenderam o corpo horrorosamente. Chegada à cidade a nova deste inesperado e triste caso, saíram os negros que estavam ao nosso serviço, e não somente tomaram o cadáver daqueles bárbaros, como impediram que acabassem miseravelmente nas mãos deles os que o acompanhavam o coronel. Grande perda foi à Companhia a deste valoroso e experimentado chefe, particularmente pelo grande respeito e autoridade de