História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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depois ele, e em seguida a sua gente sucessivamente saltaram na plataforma. Feito atrevido e heróico! A muralha elevava-se acima da água obra de oito ou nove pés, e era defendida, segundo a geral estimação, por quinhentos ou seiscentos homens, e sem embargo disto, os nossos a galgaram, ajudando-se dos ombros uns dos outros, e dos croques dos bateis. Com verem isto, os Portugueses desanimados abandonam a plataforma, e a nado vão procurar guarida na cidade, deixando alguns mortos. Mas, pois esta plataforma triangular estava, do lado da praia, em aberto e sem resguardo algum, os de terra, entraram a atirar vivamente com os seus mosquetes contra os nossos; o vice-almirante, querendo tolhê-los que não atirassem, mandou voltar duas pecas e fazer fogo contra eles, que também estavam a descoberto. Com quanto deste modo afrouxassem os tiros do inimigo, e muito crescesse o temor entre os que estavam na praia, todavia o vice-almirante não teve por avisado permanecer neste lugar por mais tempo, tanto mais quanto sobreviera a noite, a gente estava mui afrontada, e começava a escassear a pólvora; pareceu-lhes pois mais conveniente encravar a artilharia, por não se utilizar dela o inimigo, e tornar-se aos navios com os seus que, depois de recuperadas as forças com o descanso da noite; concluiriam ao seguinte dia a obra começada. Neste último combate, que durou uma hora pouco mais ou menos, morreram somente quatro dos nossos, e entre eles aquele corneta do vice-almirante, e foram feridos oito ou dez; é incerto o número dos mortos do inimigo, mas de crer que foi grande. Deixemos agora descansar por um pouco o almirante e sua, gente, e passemos a narrar o que neste interim a tropa fez em terra.Mal foi içado o galhardete ao mastaréo de velacho da, almiranta, largaram a grão pressa as sete chalupas em demanda dos navios e do iate, que levavam a tropa. Ao todo não havia mais de mil e duzentos soldados válidos, que na ausência do seu coronel, eram capitaneados pelo sargento-mór Allert Schouten; a estes juntaram-se duzentos e quarenta marinheiros, a quem foram cometidas as peçasinhas de campanha, as victualhas e munições de guerra. Toda esta gente desembarcou das chalupas na angra ou enseada arenosa, onde cada qual juntou-se à sua bandeira, e em seguida abalaram na seguinte ordem, de antemão determinada, pela sorte. Na vanguarda ia o capitão Helmondt com cinqüenta ou sessenta arcabuzeiros; seguia-o parte da companhia do coronel comandada por La Main, seu tenente; após vinham o sargento-mór Allert Schouten com sua companhia, e o tenente ele Helmondt com parte da outra; seguia-se o capitão Basseveldt com sua companhia; e no coice marchava a maruja com os falconetes, alviões, enxadas, machados, munições e mais cousas necessárias. Na retaguarda destilavam com suas companhias os capitães Kijf, Ysenach, Willem Schouten, e Bourgeois van Nollinmen, Dirck Pietersz. Colver e Dirck de Ruyter, que já haviam estado no Brasil, e conheciam muito bem os caminhos e avenidas, que conduziam à