era chegada assim naquela baía de areia, como diante da cidade. Tanto que o inimigo viu os nossos navios montando a ponta, começou de jogar a sua artilharia grossa com fúria contra eles, já do castelo de S. Philippe ao sudoeste da cidade, onde havia três peças de bronze, do grande forte de Tapagipe, onde havia quatro, já particularmente de uma bateria cm frente da cidade, colocada na plataforma, que fora recentemente construída de brancas pedras de cantaria acima da água sobre uma laje, na qual havia oito peças de bronze e duas ou três de ferro. Nada obstante, os nossos foram caminhando intrepidamente por diante, ocupando cada um o seu posto. Faremos primeiramente relação do que fizeram os navios, do combate no mar.O vice-almirante Pieter Pietersz. Heyn com os navios Gelderlandt, Groeninghen e Nassauw , acercou-se, até à distancia de um tiro de mosquete, daquela bateria nova e dos navios portugueses, que em número de quinze entre grandes e pequenos estavam cosidos com a praia, com o forte de S. Philippe a bombordo. Como os combatentes estavam mui chegados uns aos outros, aqui travou-se uma renhida peleja, que durou quase até às sete da noite. Vendo o vice-almirante que com tiros não adiantava grande cousa, e que entretanto os nossos navios iam recebendo grande dano do inimigo, principalmente o Groeninghen, que estava mais próximo deles, e tão varado de balas, que não tardaria a ficar reduzido à ultima extremidade, (pois só lhe restavam cinqüenta homens validos, por haver perdido em viagem alguns trinta, e estarem outros tantos doentes), assentou de mandar guarnecer três bateis, cada um com vinte marinheiros, e remetê-los contra os navios contrários, para o efeito de escalá-los, e se possível fosse, tomá-los e trazê-los. Este intento lhe saiu as mil maravilhas, pois os Portugueses, em vendo que os nossos iam sobre si com tanta bizarria, sem tardança abandonaram os seus navios, e deitaram fogo ao maior, cujo incêndio, se comunicando a outros três os devorou inteiramente, e por isso os nossos só puderam salvar oito dos navios do inimigo, e os levaram para a armada. Neste combate, entre outros, perdeu a vida o capitão do navio Groeninglten, Andries Nieuw-Kerck, chamado o Paciente , bom capitão e soldado valente; ele e os seus se houveram mui galhardamente. O almirante, vice-almirante e oficiais do conselho, que os acompanhavam, como observassem o desanimo e a precipitada fugida dos inimigos, e tomassem isto em consideração, depois de deliberarem entre si, entenderam que deviam tirar proveito daquele ensejo; pelo que mandaram que imediatamente quatorze bateis fossem guarnecidos cada um com vinte marinheiros bem armados, e capitaneados pelo vice-almirante fossem ter à sobredita plataforma (cujos tiros incessantes faziam grande estrago nos navios), e, se possível fossem, a escalassem. O vice-almirante, apesar do fogo bem nutrido da bateria, bem como do da praia, deu cumprimento a esta ordem com tanta presteza e tanto denodo, que primeiro o seu corneta [^nota-12],
História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30
Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional