História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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chegou ao sul da ilha mais ocidental dos Ídolos. Em breve avistou a terra firme, e surto junto dela um barco. Estavam os nossos na altura de 8º 50' à banda do norte; e como o navio grande não pudesse acercar-se do barco pela pouca profundidade, o Commandeur mandou a ele o batel e a pequena chalupa de arenques, bem providos de gente; mas foi em vão, porque o barco refugiou-se no rio, e sobrevindo à noite, os nossos não ousaram persegui-lo. Viram que este rio tinha uns cinco ou seis formosos galhos, que podiam ser entrados, e que a maré cresce nele obra de braça e meia. A 26 o Commandeur fundeou em Serra Leoa, onde encontrou navios ingleses e franceses. Obteve do governador dos negros, mediante um insignificante presente, licença para traficar, e fazer lenha e aguada.Neste entretanto os doas iates entraram no verdadeiro rio de Cacheu, e subiram-no até ao povoado, que aí têm os Portugueses; mas antes disto, haviam tomado um pequeno navio, metido no fundo um barco, e queimado dois que estavam descarregados. Depois de atirarem contra a povoação quarenta ou cinqüenta tiros de peça, não tendo forças bastantes para assaltá-la, os nossos desceram o rio, e a 15 de Dezembro reuniram-se ao Commandeeer com o naviosinho tomado, que foi provido de gente e de um capitão. Trouxeram Lambem um alguazil português, que resgatou-se por sessenta barras de ferro. O Commmandeer permaneceu aqui algum tempo, afim ele refrescar os seus, e prover-se de água e lenha, e negociou neste entretanto com os negros, dentes de elefante e certa madeira vermelha, que dá nesta região, e é trazida em quantidade ao nosso mercado. Este ano não navegou mais, e pois aqui o deixaremos tomar pouso, e passaremos a narrar o que se passou no ano seguinte de 1624.

1624

Ficou dito que a Companhia das Índias Ocidentais havia aparelhado o ano passado uma grande frota, bem guarnecida de gente, e bem provida de toda a sorte de munições de guerra, e lhe dera por almirante Jacob Willekens. A 21 e 22 de Dezembro do dito ano partiram do Texel e do Ems dezenove navios desta frota com a almiranta; a 23 partiram do Mosa um navio e dois iates; a 25 de Janeiro deste ano de 1624 largou a vice-almiranta do porto de Goeréa; e finalmente a 26 seguiram de Zelândia dois navios e um iate; ao todo vinte e seis velas entre navios e iates. Os navios e iates, que largaram de Texel e do Ems, navegaram com ventos favoráveis, e avançaram tão rapidamente, que a 28 do mesmo mês estavam todos reunidos na ilha de S. Vicente, uma das do Cabo Verde, situada em altura de 1º e alguns minutos de latitude sept., com exceção do navio Holandia, em que ia o senhor Van Dorth, que não podendo alcançar dita ilha, escorreu-a, e foi aportar em Serra Leoa. O almirante permaneceu nesta ilha até 26 de Março a ver se reunia toda a frota. Neste interim foram chegando os navios, que partiram depois dele, e