História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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atualmente tinha em sua conserva toda a frota, com exceção do navio Hollandia, do qual todo este tempo não houve notícia alguma. Obtiveram-se aqui bons refrescos, -como peixe, muitas cabras, laranjas e limões, e isto foi havido não só nesta ilha de S.Vicente, como na vizinha de S. Antonio. As chalupas, que haviam sido levadas em peças, foram concertadas; prepararam-se gabiões e outras coisas necessárias; instruiu-se e exercitou-se a tropa. O almirante, tendo aguardado por tanto tempo a vinda do coronel, e não sabendo onde ele parava, e achando-se tudo a pique, determinou não perder mais tempo, e prosseguir na sua derrota, e no dia já indicado fez-se à vela de S. Vicente com todas as chalupas aqui ajustadas. A 21 de Abril chegou à altura de 6º ao sul da linha; e neste mesmo dia mandou chamar a seu bordo todos os oficiais, que formavam o conselho secreto, para, de conformidade com as ordens que lhe tinham sido dadas, mostrar as instruções secretas, que estavam seladas em seu poder, e que deviam ser abertas nesta altura. Das instruções viu-se que queriam os XIX fosse acometida a Bahia de Todos os Santos, e se envidassem esforços por tomá-la. A uma voz comprometeram-se os oficiais superiores a dar cumprimento a esta ordem fiel e valorosamente, e a empenhar todos os seus esforços, para que os intentos da Companhia se realizassem em proveito dela e em bem da pátria. Deliberaram também sobre os meios de execução e a ordem, que teriam no cometimento. Mas convém que não procedamos na narração desta expedição, sem primeiro fazer uma breve descrição da praça.Esta capitania do Brasil, que é de todas a principal, chamam comumente Bahia de Todos os Santos; em seu meio está situada, em altura de 13º ao sul da equinocial, trinta léguas espanholas ao norte da capitania dos Ilhéus, e obra de cem das mesmas léguas ao meio-dia da de Pernambuco. A baía, de que esta capitania houve o nome, é mui grande e espaçosa, e divide-se em muitas enseadas, onde há também algumas pequenas ilhas. Abre-se ao sul, e prolonga-se ao norte; tem de largo perto de duas léguas e meia, em partes doze braças de fundo, e em outras até dezoito seguramente; vários rios se vêm meter nela, e pois é uma das mais capazes das que há em toda esta região do Brasil, A ilha maior e mais afastada, que está a um tempo diante e dentro da baía, tem o nome de Taparica; vindo do mar em fora vos fica esta ilha à esquerda, e à direita o continente do Brasil, tendo a baía de largo nesta parte perto ele três léguas. A terra firme, que fica à direita, faz uma ponta romba, em que há um forte chamado de Santo Antonio, e em uma enseadazinha, que termina ao norte em um pequeno cabo, estava a cidade antiga, que chamam agora Vila Velha; do qual cabo encurva-se a terra firme, e faz a modo de uma meia lua, que acaba em uma pequena língua de terra com uma ponta delgada, que entra bastante pela baía. Pouco mais ou menos no meio desta curva levanta-se a cabeça desta capitania, chamada S. Salvador, e na ponta delgada está a fortaleza Tapagipe, apartada cousa de duas léguas da ponta da ilha de Taparica. Desta ponta de Tapagipe a terra escolhe-se primeiramente algum tanto para leste, a baía alarga-se, e mete-se pela terra por uma estreita boca, e faz mais para dentro um grande