História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 30

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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cabo. Supuseram ser o cabo Roxo e o rio de Cacheu. Surgiram em cinco braças, fundo de barro, ficando o dito cabo ao sul quarta a sudeste com eles; e apartado obra de quatro a cinco léguas. Estavam a uma boa légua da costa, e na altura de 12°17' ao norte da linha. Do norte até aquela bocca é tudo mui baixo na borda do mar, bem como a terra que cerca a mesma, bocca, e assim continua até ás proximidades do cabo. E porque os nossos não conhecessem bem estes lugares, o Commandeer mandou os dois iates e o batel grande fiquella embocadura para saberem ao certo o que era. Na noite seguinte tornou o batel: remontara o rio um bom pedaço, e os nossos viram que ele tem umas três barras. A primeira, que é a maior, pegada ú margem setentrional, corre a lesnordeste, mui larga na entrada com a profundidade de três a quatro braças; ao sul desta fica a segunda, que corre primeiro ao sul, depois a sus-sueste, e fazendo uma curva vai ter ao grosso do rio. As entradas deste, rio não são boas; deveis esperar a proa-mar, porque a maré cresce bem uma braça. Os negros que moram nas suas vizinhanças, tão depressa deram fé do batel, acudiram de vários recantos em muitas canoas, bem armados com formosas azagaias, arcos e setas; mas, como viram que os nossos estavam de sobre-aviso, não acometeram o batel. Os nossos não puderam entendê-los nem mover nenhum deles a passar-se ao batel, para ser interrogado mais de perto. O Comandeur, não satisfeito com estes informes, e desejando saber ao certo se aquele era ou não o rio Cacheu, determinou que fossem os iates ao rio, e o subissem, juntamente com o batel grande de novo bem guarnecido, e lhes recomendou que se guardassem cautelosamente das manhas dos Portugueses e dos negros. A 16 os iates entraram no rio ao longo de sua ponta setentrional, e dele saíram a 19, e rodeando o parcel ao sul (o qual sabe ao mar obra de légua e meia ao rumo de oeste quarta a sudoeste e oessudoeste), tornaram ao navio grande. Declararam haver subido o rio algumas sete ou oito léguas, seguindo geralmente o rumo de leste quarta a nordeste e lesnordeste, sem depararem navio algum; mas havia tantas sinuosidades e arroios, que vinte e cinco barcos, que no rio estivessem, poderiam esconder-se aos nossos. Não viram aldeias, nem povoado algum de Portugueses ou Espanhóis. Os negros vieram a falar, mas nem os nossos os entenderam, nem eles aos nossos. A terra é formosa, abundante de tamareiras, produz muito arroz e milho, mas viram pouco gado. Daqui concluíram os nossos que não era aquele o rio Cacheu, mas sim o de S. Domingos [nota10]. Que Dirck van Ruyter menciona no seu livro - Guia da Navegação .Vendo pois o Commanndeur que nada tinha que fazer aqui, mandou que os iates passassem por entre os baixos de S. Pedro ou do Rio Grande, a ver se havia algum resgate, e sondar a profundidade daquela passagem, indo ter com ele em Serra Leôa. Os iates navegaram pouco mais ou menos para a terra, para tocar de passagem em um lugarejo, onde há resgate, três léguas ao norte do Cabo Rôxo. No mesmo dia o Commandeur levou ancora, e a 24