por dois portugueses chegados do Rio São Francisco pelo navio de Jan Hoen e que desembarcaram junto à Candelária. Inquirido, porém, rigorosamente, o capitão do navio, por ordem do Conselho, declarou o mesmo que a 8 daquele mês, ao deixar o Rio São Francisco, não havia notícia da anunciada marcha de Camarão.
A 30 de maio de 1645, certo judeu de nome Abraham Mercado1 entregava ao Conselho uma carta anônima, sob o pseudônimo de Plus Ultra. Traduzida do português, na mesma noite, apurou-se, de seu conteúdo, que três desconhecidos informavam o Conselho que numerosas tropas se deslocavam do Rio Real para a Paraíba com o propósito de ali se reunir a um grupo de descontentes e atacar de surpresa os fortes holandeses. Aconselhavam ainda os desconhecidos que se efetuasse a prisão de João Fernandes Vieira, o Chefe da Revolta.
A carta é a seguinte:
CARTA DE INFORMAÇÃO AO CONSELHO
Admira-se que os senhores se sintam tão seguros, quando é notório que a mata da Paraíba está repleta de forças procedentes do Rio Real constituídas por numerosos negros, mulatos e portugueses chefiados por Camarão. Desde março que estão se reunindo, na esperança de se juntarem, agora, às tropas que até aqui estavam detidas pelas cheias dos rios. O que planejam é incitar o povo a se levantar em armas, e, uma vez isso conseguido, consideráveis reforços lhes chegarão da Baía, tanto por mar como por terra; com isso planejam bloquear o Recife. Contam ainda estabelecer acampamento em Olinda ou na várzea e aquartelar suas tropas nas freguesias das redondezas. Alardeiam que suas forças já se acham consideravelmente aumentadas pelos devedores da Companhia e outros vagabundos e ameaçam, massacrar todos os súditos de Vs. Excias. que se recusarem a apoiá-los. Pessoa merecedora de todo o conceito e crédito
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Nota 211: Abraham Mercado pertencia à colônia judaica do Brasil holandês. Era membro do Mahamed, diretório formado de 7 indivíduos. Seis parnassinos e um gabay, isto é, seis presidentes e um tesoureiro. (Cf. LVIII, p. 14, 15 e 53). Era médico. Segundo afirma Keyserling, morreu em 1655 (Cf. XLVII, p. 70); segundo Cardozo de Bethencourt (X, p. 9) saiu do Brasil, indo para Barbados, em 1656; e em 1655, segundo João Lúcio de Azevedo (V, 435). Menasseh ben Israel dedicou o segundo volume do Conoiliator, 1641, aos proeminentes judeus brasileiros: David Sênior Coronal, Abraham de Mercado, Jacob Mescate, Isaac Castanho (Bloom, XI, p. 130). Abraham Mercado, ao verificar-se a expulsão dos holandeses do Brasil, não emigrou para Barbados sozinho, pois "eram 30 famílias, algumas das quais muito pobres; eles são ordinariamente cidadãos e observam as leis, exceto em questão de religião". (Cf. Friedenwald, XXXV, p. 60). Seu filho chamou-se David Raphael Mercado.
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