certamente haveria de afetar de maneira profunda o movimento geral. Tendo-se repetido, periodicamente, essa situação, verificou-se, finalmente, tamanha premência de dinheiro como dificilmente se poderá fazer idéia. Muitos dos senhores de engenho, faltos de recursos com que satisfazer seus débitos nos respectivos vencimentos, viram-se na contingência de tomar dinheiro a juros de 3 e 4 por cento ao mês para saldá-los. Isso reduziu a maioria deles a uma tal penúria que, em pouco tempo, se acharam em situação de não poder pagar nem capital nem juros.
O motivo.
Logo que chegaram ao Recife, em 1640, os três novos diretores, ou membros do Grande Conselho - Hendrik Hamel, Kodde e Bullestrate - verificaram que muita gente, principalmente os portugueses do Brasil Holandês, havia assumido compromissos excessivos para a aquisição de engenhos, canaviais, escravos e outras utilidades. De fato, chegaram a comprar negros à razão de 300 e mais peças de oitavo 1 e a pagar preços os mais absurdos, por qualquer mercadoria de que tivessem necessidade. Compravam armazéns inteiros sem se dar conta de como poderiam pagá-los. Assim agiam os portugueses na esperança de vitórias decisivas das grandes armadas que sabiam estar sendo aprestadas na Espanha para reduzir o Brasil à obediência, com o que imaginavam libertar-se de suas dívidas. Ignorando os comissários tais intenções e cegos ante a perspectiva de gordos lucros, continuaram a vender aos portugueses sem restrições. Entretanto, desfeitas como fumo as esperanças dos lusos, viram-se estes ante a necessidade de honrar seus compromissos. Contudo, novos sortimentos chegavam da Holanda e novas compras faziam os portugueses, amontoando dívidas sobre dívidas até que, devido à impontualidade dos pagamentos, sentiram estes seu crédito escassear também com os comerciantes, que passaram a exigir a liquidação de seus débitos. O comércio do interior, premido pelos comissários e atacadistas que recebiam tais mercadorias de suas matrizes na Holanda, foi forçado a solicitar um acerto de contas dos portugueses aos quais havia vendido a crédito. Por outro lado, como os lusos só haviam feito tais compras com a intenção de as não pagar, o comércio do interior, obrigado a saldar suas contas com o do Recife, era obrigado a cerrar as portas, já que nada recebia dos portugueses.
Grande confusão comercial.
Assim, devido à imprudência e à inépcia de tais comissários, aos quais os exportadores da Metrópole haviam confiado seus haveres, grande foi a confusão resultante e enormes os riscos para os segundos. Quase todas as transações da época passaram para os tribunais e para as bancas dos advogados, o que ainda mais concorria para agravar a derrocada geral,
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Nota 179: O tradutor inglês escreveu: "300 peças de oitavo" (cf. p. 45, 1a coluna, 8° § da ed. holandesa e p. 36, 2a coluna 1° § da trad. inglesa).
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