esteve sob a jurisdição holandesa, mas, depois da revolta dos lusos, o lugar foi abandonado pelo povo e Henrikus Harmannius passou a ser o único ministro da região. No Recife, na Cidade Maurícia e nos fortes circunvizinhos, abrangendo quatrocentos protestantes holandeses, franceses e ingleses, havia três ministros que pregavam em língua holandesa: Nikolaus Vogelius, Petrus Ongena e Petrus Gribius. Além destes havia outro, de nome Joducus Astetten que fora outrora ministro no Cabo Santo Agostinho e que então servia tanto a bordo de nossa frota como nas expedições terrestres. Após a partida de Joachim Soler, ficou a igreja francesa sem ministro e, assim, seus fiéis tinham que se contentar com a leitura de trechos bíblicos e orações, aos domingos, pela manhã. O ministro inglês era o senhor Samuel Batchelaer que, em 1646, também regressava à Inglaterra. Todavia, por essa época já o Brasil Holandês dispunha de sete ministros nossos compatriotas. 1
O nosso culto religioso, tanto no que respeita à doutrina como à prática, era estritamente regulado pelas prescrições do Sínodo Nacional de Dordrecht, dispensando-se especial atenção à instrução das crianças, às
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Nota 167: Sobre os mencionados ministros, o documento mais importante é o encontrado e traduzido por Souto Maior (LXXXVII). Nele encontramos algumas referências, que coligimos. D. Johannes Offringo começou o serviço religioso em Goiana e em 1641 trocou com o predicante de Itamaracá o lugar de ministro da Igreja de Goiana. Em 1644 continuava em Itamaracá D. Theodoro Polhemhis. Já servia por volta de 1636, sendo, a princípio, na igreja do Cabo de Santo Agostinho. Foi indicado na reunião da primeira classe, realizada a 16 de dezembro de 1636. Em sessão de Igreja de 3 de janeiro de 1638 foi removido para Itamaracá, no lugar de Joducus a Stetten e, mais tarde, em 1641, trocou de lugar com Offringo, passando para Goiana. As atas da Igreja não falam em Polhemius a serviço no Rio Grande do Norte. Nelas nada encontramos sobre Henrikus Harmanius. Nikolaus Volegius era, em 1640, predicante de Índios; em 17 de outubro de 1641 pregava na igreja de Porto Calvo e, finalmente, em 1644, era eleito predicante efetivo no Recife. Petrus Onzena, em 18 de julho de 1644, servia na Igreja de S. Antônio do Cabo e era eleito, nessa mesma reunião, escriba da Diretoria da Assembléia Sindical. Petrus Gribius não aparece nas atas. Sobre Joducus a Stetten, além das referências feitas nas atas, muitas outras se encontram, que podem fornecer-nos dados sobre sua singular personalidade. Alfredo de Carvalho, em dois de seus interessantes trabalhos (XX e XXIII), resume as aventuras em que Stetten se envolveu Era não só predicante como explorador de minas. Veio para o Brasil nos primeiros tempos da invasão, como reverendo calvinista. Servia na Igreja de Itamaracá e não na da Paraíba, como afirma Alfredo de Carvalho (LXXXVII, 710), tendo sido, na sessão de 16 de dezembro de 1636, eleito escriba. Em 1637 É não em 1639, como afirmou, também, Alfredo de Carvalho, foi exonerado do serviço religioso e convidado a se retirar dentro de cinco ou seis meses do país, tendo, em janeiro de 1638, deixado o cargo de Itamaracá (LXXXVII, 718 e 724). Em 1638, na sessão de 29 de outubro de 1638, comparecia à reunião e desculpava-se do seu procedimento, pleiteando sua readmissão. A 25 de março de 1639, resolvia a Igreja reformada readmiti-lo, sendo, em 20 de abril de 1640, indicado para a Igreja do Cabo de S. Agostinho. A última referência que encontramos é a da reunião de 21 de novembro de 1640, a que compareceu (LXXXVII, 752). Cf. nota 271. Por essa ocasião é que deve ter iniciado a sua atividade como explorador de minas. Alfredo de Carvalho afirma, baseado em documentos, que em 1645, apresentou Stetten um relatório dos resultados de suas pesquisas. Nesse relatório, pleiteava sua nomeação para superintendente geral de minas, como também, o que é curioso, obras de filósofos que escreveram sobre minas, desde Teofrates, Salomão e Avicebromis (XX, 118-121). Nieuhof afirma que Stetten servia, também, nas expedições terrestres. É possível que conciliasse os dois serviços; daí o não falar Nieuhof em suas atividades de aventureiro. Nas atas se escreve J. a Stetten e Nieuhof Astetten (p. 47, 3° §). D. Joachim Soler era, em 31 de março de 1637, indicado para elaborar um pequeno e resumido catecismo na língua espanhola, com algumas orações, para servir na catequese dos índios. Foi, dos ministros holandeses, o que melhor se distinguiu nesse trabalho, pois várias são as referências que se encontram a respeito. Falava português, tendo, mesmo, pregado na nossa língua, a fim de converter os portugueses. O catecismo de que fora incumbido foi enviado à Holanda, mas não voltou impresso, tendo Soler novamente composto, ajudado, agora, por Doorenslaer, um "breve, sólido e claro compêndio da religião cristã". Em 1644, deixava o Brasil. Joachinus Soler se encontra em Nieuhof e nas Atas da Religião Cristã Reformada; Calado falou-nos (XVII, p. 128) de um "predicante francês Vicête Soler, valenciano de nação, o qual havendo sido frade augustinho, tinha fugido da Religião e passando à França se fez, ali, Calvinista e se casou e se fez predicante da seita de Calvino e, com este título, assistia em Pernambuco"; Nieuhof afirma que quando Soler abandonou o Brasil a igreja francesa ficou sem ministro; donde se pode supor que ele fosse realmente francês. Calado, Nieuhof e as atas mostram que assistia no Recife. Terá Calado se equivocado ao escrever Vicête, tratando-se do mesmo Soler? Se assim for, é preciso não esquecer que Soler, predicante, Vicente ou Joaquim, escreveu o seguinte trabalho: Cort ende sonderlingh I Verhael / van eenen Brief van Monsieur Soler, I Bedienger des H. Euangelij inde Gherofor- I meerde Kercke van Brasilien. / Inde vvelcke hij aen eenighe syne vrienden, I daer hy aen schrijft, verhaelt verschey-den singula / riteyten van 't Landt. / Uyt de Francoysehe in onse Nederlantsehe tale overgeset. I Tot Amsterdam / Voor Boudevvyn de Preys, Broeckvercooper wo- / nende op de hoeck van de Vygenãam inde Faem. Anno 1639". Quanto a Samuel Batchelaer ou Samuel Batiler, como se grafa nas atas, foi, em 16 de dezembro de 1636, examinado e "admitido por voto unânime, como proponente na língua inglesa, devendo servir no acampamento de Serinhaém". Foi desde essa sessão eleito Assessor da Assembléia do Sínodo. Em 3 de março de 1637 servia no Forte, na Paraíba, e, em 17 de outubro de 1641, "a igreja do Recife expõe que ela havia nomeado para a igreja inglesa, em Maurícia, D. Samuel Batiler, assaz conhecido na classe, como predicante pio e devoto" (LXXXVII, 771). Vide nota 50.
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