só existe que se possa comparar ao Brasil, quer na produção de açúcar, quer nas facilidades que oferece para o seu transporte. Todo o litoral brasileiro está literalmente tarjado de pequenos cursos d'água que se vêm lançar ao mar após terem banhado extensos vales. Por isso os engenhos de cana erigidos nas regiões ribeirinhas desfrutam grande economia tanto no transporte como na mão-de-obra. Além de moverem, esses rios, os engenhos instalados em suas margens, servem eles para o transporte do açúcar e constituem via fácil para o abastecimento das usinas. Condições assim tão vantajosas, não se encontram em nenhum outro país das índias Ocidentais, e, por isso, neles não se poderia cuidar com lucro da cultura da cana. Também a exportação do açúcar do Brasil para a Europa e para a África faz-se com mais facilidade que de qualquer outro ponto das índias Ocidentais, graças à posição geográfica do Brasil (situado na parte mais ocidental da América). E tais vantagens, no que respeita ao transporte de mercadoria tão necessária e útil a todas as nações do mundo, como é o açúcar, não as pode ultrapassar nem a natureza nem o engenho humano.
Tomando em linha de conta essas condições e ainda sua vasta extensão territorial, é fora de dúvida que, se bem povoado, o Brasil poderia dominar tanto os mares do norte como os da Etiópia e irradiar seu comércio para todos os países do globo. Poderia, ainda, estender seu domínio para o Poente como para o Levante, ou pelo menos aí estabelecer entrepostos que facilitassem seu tráfico marítimo, pois, tanto os navios que vão para as índias Orientais como os que de lá regressam são obrigados a passar à altura da costa brasileira. Nada mais cômodo, portanto, para a navegação que ter aí instalados postos de abastecimento, já que freqüentemente são os navios forçados a fazer escala em seus portos, em busca- de provisões. Pode-se ir do Brasil às ilhas Caraíbas em 14 dias, e, no mesmo tempo, ou pouco mais, à Serra Leoa, na costa da Guiné. É impossível aventurar-se além do Mar do Sul, - onde grande parte do globo terrestre ainda está por ser descoberta, - sem levar do Brasil provisões frescas e lenha, a menos que se queiram enfrentar os riscos da longa travessia, tão vivamente descritos nos diários de bordo de Olivier Van Noord, Spilbergen, Le Maire e Jacques L'Heremite. 1
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Nota 162: Olivier van Noord foi o primeiro navegador holandês que fez a volta ao mundo. Nasceu em Utrecht. Partiu de Roterdã em 13 de setembro de 1591. Tentou apoderar-se do Rio, mas não conseguindo o seu intento, continuou viagem pelo estreito de Magalhães, costeou o Pacífico, seguiu para as Filipinas, as Molucas, voltando pelo Cabo da Boa Esperança, e chegou a Roterdã a 26 de agosto de 1601. A relação foi publicada em holandês sob o título: Beschrijving van de Schipvaerd by Hollanders Ghedaen onder Olivier van Noord, door de straet van Magallam.es en3e\ voorts de gantsche Kloot des aertbodems om. (Amst., 16í6). Com 25 estampas. Essa viagem foi publicada, depois, na coleção de viagens holandesas "NederlandscheRaizen", 2 tomos, MDCCLXXXIV, sob o título: Togt rondom den Aardkloot, âoor Olivier van Noord, Geduurende Welken zy verscheiden woeste en oubewoonde eilanden ountdekken, en, noa eene afweezigheid van drie jaaren, den 26 Augusti 1601, te Rotterdam iveder behouden aanlanden. Te Amsterdam, by Petrus Conradi, Te Halingen. By V. van der Plaats; ocupando da p. 147 à 253. A mesma viagem foi editada, também, em francês: Desoription du penible Voyage fait autoivr de Vunivers ou globe terrestre, par Sr. Olivier Du Nort, d'Utrecht, general de quatre na-vires... Amsterdam, chez la Veuve de Cornille Nicolas, 1610, 22 pp. e uma folha não numerada. Spilbergen empreendeu a primeira viagem em 1601, 1602, 1603 e 1604; o relato da expedição foi publicado em holandês, editado na citada coleção " Nederlandsche Raizen", tomo III, MDCCLXXXIV, pp. 150-224, sob o título: Eeerste Togt van Joris Spübergen, na de Oostindiên, in de Jaaren 1601, 1603 en 1604, pp. 150-224. Mais tarde realizou Spilbergen outra viagem com Jacob le Maire e W. Shouten, entre os anos de 1614 a 1618; foi também publicada em holandês sob o título: Oost ende West-Indische Spiegel der 2 leste navigatien, ghedaen... 16H-18, daer in vertoont wort, in ivat gestalt Joris van Spilbergen door de Magallanes de werelt rondom geseylt heeft.... Met de Australische navigatien, van Jacob Le Maire. Leyden, N. van Geelkereken, 1619. Foi traduzida para o latim: Speculum Orientalis Occiden-talisque Indiae navigationum; quarum una Georgij à Spilbergen classis cum potes-tate praefecti, altera Jacobi Le Maire auspiciis imperioque directa, annis 1614-18; Lugduni Batavorum, N. à Geelkereken, 1619. Em 1621, foi traduzida para o francês: Miroir Oost en West Indicai, auquel sont deseriptes les deux dernieres navigations, faictes 1616-18... p. J. Spilbergen. Amst. J. Jansz, 1621. Foi, ainda, publicada na "Nederlandsche Raizen", tomo 8°, MDCCLXXXV, p. 1-51- O estreito descoberto entre a Terra do Fogo e uma ilha foi chamado Estreito Le Maire. Jacques L'Heremite ou Jakob Heremijt foi outro célebre viajante holandês. Começou como companheiro de viagem de Steven van der Hagen, na segunda expedição por este realizada às Índias Orientais em 1603 (LVI, Tomo IV, p. 163, 164, 165) e mais tarde em 1623-1624 empreendeu outra viagem ao redor do mundo. Na coleção "Nederlandsche Raizen", tomo 8°, MDCCLXXXV, p. 235-176, encontra-se a Togt rondom den Aardkloot, door Jakob Heremiet, Gedaan in de jaare 1623 tot 1626, pp. 135-176. Sobre essas viagens em geral, a melhor autoridade é P. A. Tiele. Para os dois melhores trabalhos deste autor, vide: XC, XCI.
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