retiram para as florestas mais afastadas, são caçadas facilmente, a tiros, e expostas à venda pelos soldados e pelos escravos, em grande quantidade. Algumas delas, sobretudo as rolas, podem ser domesticadas. Alimentam-se de pão, de farinha da raiz Mandioca. Na falta deste alimento, engolem frutos do tamanho de uma avelã, da árvore litorânea chamada Mangle, com o que a sua carne se torna tão amarga que vem a ser não comestível. Por isso as que se alimentam destes frutos são menos desejadas. Apanham-se sobretudo nos meses chuvosos. Proporcionam agradável alimento, quer silvestres quer cevadas, e igualam na boa qualidade às nossas, exceto em terem a carne mais seca e quente, e produzirem um sangue cálido. Por isso os alimentos desta espécie, como em outra parte admoestei, devem pospor-se nestas regiões cálidas aos de temperamento seco. Devem escolher-se os filhotes antes de crescerem e, sendo magros, cozinhem-se com molhos, do mesmo modo por que os nossos compatriotas preparam às vezes os adens e as pombas.IABICU-GUAÇUNos sítios apartados, junto aos rios e lagos, é freqüente esta insigne ave, por alguns brasileiros chamada Iabicu-Guaçú, por outros do interior Nhanduapoá, pelos nossos Scur-vogel. Tem o bico avantajado, grosso, branco em baixo, desprovido de língua. É ornado, na cabeça, de uma mitra óssea, de cor branca. Pelo volume do corpo facilmente supera a cegonha. A cauda, um tanto curta, termina com as asas, na mor parte esbranquiçadas, exceto os remígios, que resplandecem com a cor de rubi. Retirada a pele, que é assaz dura, prepara-se-lhe a carne de qualquer modo; contudo raramente é posta assada na mesa. A carne é boa, mas um tanto seca. No tempo hibernai ou chuvoso engorda e serve de agradável alimento para os habitantes. Facilmente é apanhada pelos bárbaros e soldados, a setas ou a tiros.
Historia Natural Médica da Índia Ocidental
Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo