Historia Natural Médica da Índia Ocidental

Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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CAMURIHá diversas espécies de Camurí, pelos lusitanos chamado Robálo, pelos nossos Snoeck. Os que somente habitam as águas doces e estagnadas, são os lúcios dos latinos e bicuda dos brasileiros; os maiores entre eles são ditos Camuripi; tão semelhantes aos europeus pela forma externa, pelo sabor e qualidades alimentícias, que nenhuma diferença entre eles pude notar. Por isso julguei desnecessário apresentar sua descrição e gravura. Remeto o leito aos ictiógrafos.Os que nascem no mar e vêm para a embocadura dos rios, são chamados Lobos-marinhos pelos latinos, mas pelos indígenas Camuriapéba; e os maiores, Camuri-guaçu. Alguns destes divergem tanto pelo tamanho e pela cor que parecem espécie diversa. Apresento a gravura do mais comum e notável, que não se distancia muito da figura dos nossos lobos-marinhos, nem do seu sabor; sendo que toda a família dos lúcios e lobos-marinhos brasilienses muito supera em qualidade os europeus, e tanto bem faz aos doentes quanto aos sãos É este lobo grande, espesso, coberto de escamas argênteas como a carpa, mas de ventre esbranquiçado. No dorso, nos flancos e nas barbatanas a cor de ouro. Em cada flanco, na parte superior, a partir das guelras até à cauda, corre uma linha grossa, negra. Tem a cabeça oblonga; quatro guelras de cada lado; olhos grandes; o ricto da boca largo, apropriado à rapina. Em lugar de dentes, há ossos um tanto ásperos no palato. Tem oito barbatanas, das quais a dorsal anterior é reforçada por espinhas fortes, unidas por tênue membrana, podendo ocultar-se numa fenda. A cauda é longa, larga e bifurcada. As vísceras, consoante o volume do peixe, são grandes