CAPÍTULO XVIII
DOS FURÚNCÜLOS E DA IMPIGEMDesde que foi descoberta esta parte da América, nenhum médico conseguiu observar, entre as doenças cutâneas, a sarna, a lepra, a elefantíase, como no Egito e em outras regiões quentes em que elas grassam, segundo os autores atestam. Mas os furúnculos ou sudâminas, com os quais a pele se irrita e enrubesce, atacam com grande prurido a quase todos os estrangeiros recém-chegados às Índias, sobretudo os que se dão mais largamente aos prazeres. Estas pústulas, bastas vezes, corroem todo o corpo; fixas e estáveis, cobrem toda a região do ventre, de modo que se podem chamar um cinto. Muitos se esforçam, menos cautamente, em destruir este mal ou com água fria e banho muito adstringente, ou por meio de purgantes mais fortes, que repuxem da periferia o humor acre. Se estas sudâminas crescerem em excesso e se espalharem muito, componham-se dos temperados purgações bem leves e fáceis, que eliminam o calor do fígado e as obstruções da sentina do corpo, isto é, do mesentério, tais como as infusões das raízes de Iuripêba, de limões e semelhantes. Deve-se fazer repetidamente a sangria. Usem-se também remédios externos, de sorte que, enxugando-se de contínuo o suor, se mude freqüentemente a camisa. Em seguida, esfregue-se o corpo com fomentações de água de enxofre e nitro, clara de ovo, sementes frias maiores, cozidas com vinagre e suco de limões, aplicando-se um pano de linho. Estas fomentações, ao primeiro contato, excitam fortes dores e picam a pele; isto costuma, porém, cessar logo. Se alguém não as puder suportar, em seu lugar use-se um banho tépido de ervas refrescantes e emolientes. Muitos, durante todo o tempo em que são atacados por este mal e têm comichão, estão imunes de várias doenças e passam bem. Por isso o fazem, com razão, os que preferem que estes incômodos, em benefício da saúde, durem até certo ponto. Antes de tudo, estabeleçam hábito de vida moderado; comam e bebam temperado e pouco, para que o humor, atenuado, seja expulso com mais êxito pelos suores, de jeito