Historia Natural Médica da Índia Ocidental

Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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mangá, Caapéba, do rícino americano Bacoveira e Queraíba, e outras infinitas usadas pelos nativos, de que se trata na história dos símplices. Acrescentam-se, se houver também tumores nos pés, banhos ou fomentações de raízes de Araçá e de limões; e das cascas de murta silvestre, de árvore Cebipira e das ramas da Anínga, Tupeiçáva, Ibabirába, Camará e semelhantes; e finalmente, com as folhas frescas do tabaco moídas obviam a males desesperados, colhendo facilmente maiores frutos na cura de muitas doenças com o uso das folhas verdes, de seus sucos e óleos, do que os demais habitantes do mundo que usam o fumo das folhas secas. Costumam amadurecer os furúnculos e apostemas com folhas de Araticá vulgar, Cararú, Pagimirióba, Potinçoba, Iuquiri e também com as raízes da jalapa vermelha, e bolbos de meerú. Aos antrazes aplicam folhas de tabaco.Em verdade, se eu descrevesse o excelente tabaco com os devidos encômios, passaria os limites de meu propósito. Pois além de que as suas infusões, para uso interno, e as suas fomentações e fricções, para uso externo, curam muitas doenças frias; o seu suco fresco e cinzas curam com êxito gangrenas, úlceras cancerosas, feridas antigas e sórdidas, abundantes em vermes do ambiente cálido e úmido. Ainda mais, para as feridas produzidas pelas setas empeçonhadas dos índios e também para as mordeduras de alguns animais venenosos, servem de excelente remédio as suas folhas trituradas e o suco, se dados oportunamente. Os aborígines, com razão, quando viajam, levam o seu pó e suco, ao invés de bálsamo, pois experimentam de cotio a sua utilidade e necessidade contra os males externos dos próprios brutos e jumentos expostos aos vermes perpétuos. Eu vi serem curadas pelos hábeis empíricos úlceras cancerosas, abandonadas nos hospitais pelos cirurgiões europeus teóricos, com remédios cuja base era o suco de tabaco com cânfora e espírito de vinho. Assim, merecidamente esta panacéia vegetal é chamada pelos espanhóis Herba Sancta; por Camerário 1 vulneraria Indica; pelos germanos Heylig Indiaens wonde Krupt .2 Trato, a propósito, no livro dos símplices, da sua ulterior natureza e diferenças.


  1. Nota 77: Joaquim Camerário (1534-1598). Dedicou-se ao estudo da Química e da Botânica..

  2. Nota 78: "Erva santa vulnerária da índia".