das mal extirpadas, como comprova Hipócrates, por toda a parte, no livro Das Afecções. Como todas as afecções do fígado se geram mais fácil e freqüentemente nas Índias do que em terras mais frias, assim não tão infelizmente admitem cura as que não resultarem de outra doença. Estão sujeitas a recaída com mais facilidade do que outras enfermidades. Daqui surge a precaução no prognóstico e na cura, consoante ao dito de Hipócrates: "A hidropisia que, depois de melhorada pelo tratamento, se reproduz, é fatal, mormente se originada de outra doença, o que freqüentemente ocorre." Pois se uma atonia ou tumor do fígado, a extinção do calor natural, enfim, todas as causas da perturbação ou obstrução da virtude sangüífica, se apresentarem, então estes remédios aliviam muito o doente, desinchando o abdome e os pés. Cessando a Medicina (e muitas vezes a necessidade e as forças alquebradas obrigam o médico a dela se abster), a doença renasce da perenidade da causa morbífica. Na dissecção dos cadáveres, sobretudo dos falecidos de anasarca ou ascite, achei às vezes o fígado de cor esbranquiçada e gretando-se, sem nenhum vestígio de sangue. Donde se conclui facilmente que esperança deve ter-se no estado das vísceras. Não raro acontece o contrário, se este mal incidir em indivíduo de vísceras bem constituídas, pois que a ascite nasce de súbito naqueles em que o calor sangüífico é prejudicado, por se ingurgitarem desordenadamente de água. Então, dão-se inesperadas excreções por virtude dos medicamentos, tanto pelas vias conhecidas e latentes, como por um e outro ventre. Se a natureza encontrar, espontaneamente, estas vias, presta não pequeno alívio ao doente. Comprovam-no as palavras de Hipócrates no Coac. Sobre a Hidropisia, c. XIX, sentença VIII: "Numa hidropisia já em começo, sobrevindo uma diarréia aquosa e sem crueza, dissipa a doença; em caso contrário, o doente, e não a doença, perece." Se houver necessidade do auxílio de medicamentos, faça-se isto mais pela perirréia do que pela diarréia, porque é difícil que aquela excreção, iniciada, do humor hidrópico, segundo a lei crítica, se faça através dos intestinos. Então o ventre, movido liberalmente pela arte, é olhado nas Índias com muita suspeição, porque não raro degenera para
Historia Natural Médica da Índia Ocidental
Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo