Historia Natural Médica da Índia Ocidental

Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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melancias, a romeira, que dá fruto duas e três vezes ao ano, e outros muitos legumes importados outrora da Lusitânia e de Angola e há pouco da Bélgica, raízes e hortaliças por toda parte cultivadas nas hortas e tornadas comuns nas cozinhas. E até produz mais a terra benevolamente não só a pimenta oriental e outras inúmeras coisas exóticas, tanto plantas européias como especiarias asiáticas. Outrora, por decreto real, foram proibidas e totalmente exterminadas para que, por sua abundância, não diminuíssem de preço. Os que desejam durante todo o ano racimos, desramam as diversas vinhas em diversos meses e colhem depois as uvas maduras. Delas se extrai vinho não desprezível, rival do crético. Além disso, os frutos de toda espécie e mesmo os cereais do nosso país, com singular fertilidade, realizariam a esperança dos colonos, se se pudesse achar remédio geral contra a praga das formigas. Nos espaços limitados e também úmidos, com o auxílio do fogo ou da água são facilmente afugentadas pelo agricultor diligente. Mas, como nenhuma região é totalmente feliz, não creio que se possa vencer este potentíssimo inimigo. Procede ele, não tanto da força do solo, como do sol, que gera inúmeros formigueiros em toda parte, sob a zona tórrida, nas Índias Orientais e na vizinha região do Peru. Certas partes na Índia e do Brasil, situadas fora do trópico, quase desconhecem as formigas; donde resultam ubérrimas colheitas. Oxalá criasse a Natureza muitas feras devoradoras de formigas, que comessem tantas miríades delas, como o fazem os animais quadrúpedes de aspecto estranho, denominados Tamendoá, do tamanho de um cão, providos de longas unhas, que, cavando profundamente, descobrem os esconderijos das formigas e logo lhes introduzem sua língua fina, que se estende quase a vinte e sete polegadas; quando ela está coberta de formigas, contraem-na de súbito e engolem-nas, colhidas na armadilha. Estas formigas (chamadas pelos lusitanos, não sem razão, de Rey do Brasil, porque exercem perpétua tirania) são onívoras, umas mui semelhantes às européias, outras três vezes maiores e aladas. Vêem-se grandes montões e amontoados de terra semelhantes a medas de feno, por elas levantados. Para lá, receosas de uma velhice indigente, estes exércitos de formigas transpor