Historia Natural Médica da Índia Ocidental

Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

Página 37


pólos, e tão límpido que do alto das popas, comodamente, se vêem os peixes a brilhar, com sua cor dourada, a mais de vinte braças de profundidade, ao meio-dia, quando o sol fulge. Ao mesmo tempo se pode ver quão diversos e contrários são os movimentos, nas profundezas do mar, daqueles que na superfície são oriundos dos ventos tumultuários. Isto não pouco engana as sondas lançadas, e a outras conjeturas da arte náutica.Quando o mar se acha muito fraco, perto do equinócio, esta tranqüilidade é tida por muito insidiosa, sobretudo quando negras e atrás nuvens aglomeradas se aproximam, como acontece, e de repente, com ímpeto geral, se resolvem em chuva; em um abrir e fechar de olhos, grandes navios são afundados.Embora ao longo das praias o mar se encapele com forte maré, não invade os campos nem inunda as terras baixas vizinhas, mas com grande frêmito açoita e com grandíssimo ímpeto fustiga uma rocha ou banco de rochedos do mar, denominados pelos lusitanos Reçiffo. Quantos o viram, são obrigados a confessar que eles foram ali colocados por sumo milagre e favor da natureza, pois o molhe dos rochedos, estendendo-se em longo trecho, como muralha, opõe-se a violência do bárbaro e furioso elemento, e oferece as naves porto e ancoradouros fiéis e seguros. Fornece, outrossim, as construções, riquíssimo material, com que se orgulham os templos e mosteiros de Olinda e da Paraíba. Este mesmo cais protege a maior parte do Brasil, ora numa linha quebrada e flexuosa, ora continuada e reta. Sua largura (muito plana e como polida artificialmente até a superfície) se estende de vinte e mesmo trinta e mais passos. E tão alta que dificilmente é inundada pela mais violenta maré.Na lua nova e cheia, o mar eleva-se a cerca de doze pés de altura e igualmente se abaixa (no litoral pernambucano isto acontece perto da hora quinta) . Entretanto, sem a alternação regular de seis horas, mas de acordo com as correntes dos rios e as alterações do mar, o oceano acaba mais cedo ou mais tarde a maré. Mas de sorte que as marés montantes são mais demoradas e mais fortes nos meses estivais; as vazantes, nos meses hibernais. Ajuntemos, ainda, que os fluxos lunares