História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Destruição de Olinda.

nenhum resultado, esse projeto, ou porque se temia, por imperícia da engenharia militar ou da arte das fortificações, encetar tão importante cometimento, ou porque se sentissem pesarosos os que se enlevavam com a amenidade de Olinda. Desaconselhavam isto os portugueses, a quem parecia irrealizável esta ligação das terras, em razão da violência do rio e da maré. Foram-lhes da opinião mestres de obras assaz peritos, que se mandaram vir da Espanha. Desde que começaram, porém, a senhorear o Brasil os holandeses, subjugadores das terras e das águas, aprouve escolher-se o Recife e a Ilha de Antônio Vaz para sede do governo. Como que condenada pelo destino, arruinou-se a formosa Olinda, mostrando-se chorosa. As casas, os conventos e as igrejas, derribados, não pelo furor da guerra, mas de propósito, lagrimavam com a própria ruína. Não parecia sacrilégio aos nossos essa demolição, como o foram os furores dos foceus contra o templo de Delfos [^nota-232], mas uma mudança de religião, admirando-se embora os bárbaros e os papistas de que admitissem tais profanações espíritos cultivados, instruídos nas normas mais elevadas e tão persuadidos do culto divino. Os holandeses, ao contrário, convencidos de que todo o lugar é igualmente sagrado e idôneo para se adorar a Deus, julgavam que não cometiam nenhuma impiedade, mas praticavam um ato de inteligência, desejando dar maior segurança à nova cidade e ao seu culto. Não queriam injuriar a Deus, (para longe tal coisa), mas sim que fosse adorado de modo mais seguro e proveitoso. Sendo nós, porém, homens e capazes de comover-nos com o belo, não podiam deixar de lamentar a assolação da cidade aflita aqueles mesmos que a devastavam, pondo por terra o topo das igrejas e dos edifícios públicos e privados, que, feridos pelos raios do sol vespertino, apresentavam sugestivo aspecto [^nota-233]. E se a gente agora visse Olinda, juraria que contemplava, jazendo em seu local desolado, Pérgamo [^nota-234], as ruínas de Cartago ou de Persépolis [^nota-235].Assim o caráter tumultuoso da guerra ou o seu furor não deixa estável e duradoura nenhuma das coisas humanas, de sorte que nem ainda mesmo as pedras, os capitólios e os templos, que para o céu se erguem, logram sua perpetuidade e quietação.

Das ruínas de Olinda nasce Mauriciópole.

Transportou cada um para o Recife os restos e os entulhos vendíveis da cidade demolida, aproveitando os materiais em novas edificações para que, desaparecendo a mãe - Olinda -, lhe sobrevivesse das ruínas, embora com outro aspecto, a sua filha - Mauriciópole.