História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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os trabalhos, de sorte que é do interesse da Companhia tomar em conta o tráfico destes, unindo-se por laços de amizade os condes do Congo e do Sonho [^nota-133].

Produtos

Os produtos do Brasil são açúcar, madeiras tinturiais e outras de cores variadas, tabaco, couros de boi e doces. Desde que se pratique a respectiva cultura, é bastante fértil de algodão e da tinta cor de laranja que se chama orelana [^nota-134].Deter-me-ei mais. um pouco em referir o supra mencionado processo de fabricar-se o açúcar [^nota-135]. No açúcar combinam-se admiravelmente a natureza, a arte e o trabalho. A natureza, por benefício do solo e do céu, elabora um sumo oculto na cana, o qual se aperfeiçoa com várias operações.

Como se planta e cultiva a cana de açúcar

Planta-se um canavial, metendo na terra pedaços de cana, e ele basta para produzir açúcar durante uma vida humana. Intercalam-se novas entre as mortas, a menos que uma seca excessiva queime os campos, ou as águas estagnadas dos rios cortem-lhes as raízes com o frio. É necessário limpar o canavial, porque, não o fazendo, as canas ainda muito tenras ficam abafadas nas ervas e produzem um açúcar menos apreciável e de cor pior.As canas cortadas levam-se em carros para os engenhos, onde depois de várias manipulações em compartimentos e vasilhas diversas, o açúcar se cristaliza em diversas formas e qualidades.

Pau-brasil.

O sertão do Brasil, a dez ou doze léguas da costa, produz pau-brasil, não em matas inteiras e cerradas, mas esparsamente, de mistura com outras árvores. Ocupam-se os negros em cortá-lo nas suas folgas e nas horas vagas. Tiram-lhe a casca mais grossa, que não é propriamente vermelha, mas branca, com três dedos de espessura, nodosa, áspera, nem leve, nem glabra. A árvore é frondosa, com folhas miúdas e muito agudas, verde-escuras, as quais pendem, umas após outras, de ramozinhos delgados. Diz-se que esta árvore não dá nem flor, nem fruto, de modo que é verossímil propagar-se pelas raízes.A mercadoria mais cobiçada pelos índios é o pano de linho, não o de Ruão, mas o de Osnabrück; porquanto alguns mercadores, seduzidos pelos lucros que auferiram do linho de Ruão, importaram-no, assim como o de Steinfurt, em tal cópia que, pela sua afluência, não se podem vender a retalho. Os panos de cores não alteraram o seu valor, e este é elevado. Mantém-se os preços antigos para o latão, estanho, vinhos, cerveja, azeite, manteiga, queijo, farinha, peixes secos, toucinho, presunto, carnes defumadas. É menor o preço das salmouras, favas, ervilhas e outros legumes.