História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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da Salamadra em que ia Jol, e, recém-construída, estava muito apta para a peleja; mas, em comparação com o porte colossal e a altura da capitânia inimiga, parecia ela apenas um iate.

Batalha naval.

Antes, dirigindo-se uma prece a Deus para que patrocinasse aquele grande feito, infundindo coragem aos guerreiros que se batiam em favor da República, o nosso almirante incendeu-lhes o brio com uma alocução. Depois, abordou a capitânia espanhola, aferrando-a fortemente com arpéus e correntes, não sob mostras de amizade, o que logo acreditou o espanhol, mas de maneira franca e indubiamente hostil. A seu exemplo, atacou o vice-almirante a almiranta, prendendo-a à sua nau com cadeias e balroas, e não menos ardorosamente e com igual confiança atracou-se a nossa Lanterna com a Lanterna espanhola.Travava-se a refrega entre estas partes sós: as demais contemplavam inativamente - oh vergonha - a luta dos companheiros, fora do alcance e do perigo das armas.Brigavam renhidamente três contra três, e quando se inflamaram os ânimos, lançaram-se ferozmente em recíprocas matanças. Cada qual se via encerrado em sua nau como num círculo fatal: era ela a área da vida e a da morte, a arena da glória. Tudo ali era vário: os lances, os ferimentos, as mortes dos que tombavam. A caligem, a fumarada, as fagulhas, as cinzas roubavam os contendores aos olhos e aos golpes certeiros uns dos outros. As balas das peças e mosquetes não matavam nem feriam tanto os combatentes quanto as estilhas arrancadas às traves dos navios. A nossa capitânia já havia lutado com a capitânia espanhola perto de duas horas numa peleja ancípite, demorando-se em associar-se ao combate os capitães da Rotterdam e da Tolen. Então os mais expeditos da nossa maruja, trepando ao alto, saltaram no convés da capitânia espanhola e ocuparam-lhe como vencedores a parte superior, trancando os espanhóis no porão. Fez-se isto assim: com os cestos da gávea da capitânia holandesa mal chegavam acima da amurada e do convés da espanhola, o nosso almirante, convertendo em utilidade as incertezas do ocaso, encheu-os de atiradores, que, de cima, descarregaram, contra o vaso inimigo, sobre os que lhes estavam em baixo, granadas de 24 e de 28 libras. E assim, fulminando aqueles ciclopes, esvaziaram para nós o convés. Tratou então o almirante com um dos marinheiros (isto sem dúvida prometia a vitória) que tirasse a bandeira da capitânia espanhola, e teria mil florins por paga da proeza. Já ele havia subido ao mastro para cumprir o ajustado, quando, chegando-se contra a nossa capitânia a almiranta e a Lanterna