História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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ia transportar para aquele local todo o peso da guerra e se preparava ali o desembarque, lá concentrou às pressas o exército, acompanhando-o Bagnuolo com forças.

Com feliz navegação passa Maurício à Baía - Desembarca - Envia na frente Tourion em reconhecimento - Abandona o inimigo o desfiladeiro

Favorecendo depois os ventos, mesmo ao meio-dia, foi Maurício levado, com o fluxo da maré, para dentro do Recôncavo, entre os raios e trovões que, de uma banda, vinham dos acampamentos e, da outra, das naus inimigas e da cidade, de todos os lados enfurecendo-se em vão a artilharia contra a nossa armada. Quando o sol, como que atento aos feitos e movimentos dos holandeses, já dobrara o zênite, achava-se ancorada a frota, debaixo mesmo dos fortes dos inimigos. Depois conduzidos na esquadra um pouco além da ponta do forte de S. Bartolomeu [^nota-103], desembarcaram os soldados, sem nenhuma resistência, a légua e meia da cidade, num lugar muito vantajoso, onde se via um morro nu e aberto, despido de matagais, sendo-lhe os vales regados de águas frescas e doces. Assentados aí os arraiais e postos rapidamente em terra todo o aparato bélico e mantimentos, soube Nassau de uns prisioneiros que, cerca de meia légua do nosso campo, havia uma garganta difícil de passar, só dando trânsito a um de fundo na baixa-mar, por causa dos charcos e atoleiros em derredor dela, os quais vedariam marcharem os soldados em batalhões. Em vista disso, foi mandado na frente o major Tourlon com trezentos mosqueteiros para reconhecer o sítio. Encontrou ele o inimigo perto daquela garganta, o qual a tinha já ocupado, munindo-se com trincheiras e valo. Obrigado Tourlon por essa razão a fazer recuar os seus diante da maior força do adversário, expôs ao Conde a situação do lugar e os perigos do desfiladeiro. Não se importou este com tais estorvos e, para não perder em deliberações o tempo de entrar em ação, ordenou o exército no morro em frente do inimigo ficando de permeio a tal garganta, entre nós e nossos contrários. Ao mesmo tempo, determinou ao vice-almirante João Mast rumasse em linha reta para a cidade, e, ancorando fora do alcance da artilharia, aguardasse novas ordens. Não era outro o plano do Conde senão retirar do desfiladeiro ao inimigo, causando-lhe outro temor maior. De feito, temendo este dano para a cidade desguarnecida, às pressas arrebatou os soldados da garganta, que abandonara, para a cidade, ainda que divergiam os comandantes, os quais aconselhavam travasse a soldadesca combate com os holandeses, e, mais forte, os atacasse primeiro, por serem mais fracos e estarem fatigados da viagem e dos incômodos do mar. Insistiam em que não havia refúgio para os nossos, a não ser junto às costas, nas naus e no mar;