longe da Pátria. Atribuíram-se a Deus simultaneamente os prospérrimos sucessos das guerras ocidentais e a vitória sobre Bagnuolo, recentemente posto em fuga.
Os habitantes do Ceará pedem paz e auxílio contra os portugueses oferecendo o seu.
Neste comenos, os índios moradores do Ceará pediram paz e ofereceram o seu auxílio contra os portugueses, rogando ao Conde que sujeitasse ao seu poder o forte dali, ocupado pelos lusitanos, protegendo-lhes a gente contra as injúrias e a dominação deles. Diziam que se conseguiria a empresa com pequena força, compensando-se as despesas da guerra com as veniagas - âmbar, algodão, cristal, pedrarias, madeiras, [^nota-79] salinas e outras produções da região. A fim de alcançarem fé para si e para a sua proposta, deixaram como reféns dois filhos dos principais da sua nação. Resolveu-se a expedição, aprestaram-se naus, armas, provisões e soldados, sendo comandante o major Jorge Garstman, homem calejado para os imprevistos da guerra pela sua experiência militar. Apesar de ser o referido forte assaz distante das nossas fronteiras, muitas léguas ao norte de Pernambuco, aprouve, todavia, ao Conde mandar para lá alguns navios ligeiros, não só com o fim de afastar o adversário para mais longe dos nossos confins, mas também com o desígnio de conciliar, no território inimigo, maior número de índios para a Companhia. Isto parecia conveniente por causa dos ódios diuturnos contra os portugueses e porque, com estas atenções que lhes dispensávamos, ser-nos-iam os cearenses muito favoráveis e teriam inspecionados os lugares e forças do inimigo. De fato, da parte dos ofendidos sempre se esperaram não pequenos êxitos para as empresas, por se acharem escondidos entre as partes adversas, sob aparência de fidelidade e de amizade, aqueles que podem prejudicar aos do seu partido, porque não medra nunca sólida lealdade entre ofendidos e ofensores.
Vêm-lhe os cearenses ao encontro - Expugna Garstman o forte
Arribando Garstman ao Ceará, informou da sua chegada ao maioral dos brasileiros Algodão e, desembarcada a soldadesca, conduziu-a pelo litoral, vindo-lhe ao encontro os naturais que lhe significavam a paz com bandeiras brancas. Depois de falar com o morubixaba, sentindo-se mais animoso com as tropas auxiliares (pois o régulo lhe trouxera de reforço duzentos dos seus), atacou e tomou o forte, que era de pedra ensossa. Defendeu-se o inimigo frouxamente, com tiros de peça e de mosquete. Foram poucos os mortos e mais numerosos os prisioneiros, e entre estes os mais graduados da milícia. Lucramos com a vitória três peças e alguns petrechos bélicos.