História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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do acampamento de Orange, se tenha dele aproximado, contemplando-o de frente, sem nada tentar, conquanto lhe houvera sido fácil retardar o cerco, fatigando os nossos com ataques contínuos. Foi também de admirar que se compensasse a importante perda de Breda com as cidades mais fracas de Venloo e Ruremonde. Não foi menos irrelevante não ter sido possível ao inimigo, durante todo o tempo do assédio, interceptar o abastecimento, e haver sido a cidade com tanta rapidez rodeada de entrincheiramentos que o inimigo, chegando pouquíssimos dias após, considerou o campo intransitável para as forças. Enfim, foi extraordinário que, em sete semanas a partir da mobilização feita por Orange, se tomasse uma das praças mais fortificadas da Europa, a qual Spínola vencera somente após onze meses de sítio. É esta aquela mesma cidade que antes tomara o ilustríssimo príncipe Maurício, escondendo, num barco carregado de turfa, os recrutas das suas guerras. [^nota-75]. Nessa ocasião foi ela atacada dormindo; agora foi-o velando; então vencemos com uma gleba seca [^nota-76], agora com a gleba verde [^nota-77]; tomamo-la toda então numa só investida, e agora lentamente e passo a passo. Não faltava então a falaz ousadia de algum Ulisses ou de algum Sinão [^nota-78], e desta vez não faltou um Aquiles para expugná-la pela força. Da outra feita desempenhou o papel do cavalo de Tróia um barco de carga, e desta, néscios de ardis, mostramos que os Nassaus podem triunfar de uma e outra maneira.Pelas suas vantagens se avaliava a importância desta vitória, porque, pertencendo aos inimigos aquela fortaleza, acometia qual uma salteadora a Holanda, a Guéldria e a Zelândia, tornando insegura a navegação nos estuários do Wahal, do Mosa e do Escalda. Assentada sozinha entre Bois-le-Duc e Berg-op-Zoom, cortava as comunicações entre essas duas cidades aliadas e impunha às cidades e praças vizinhas a necessidade de grande presídio.No outro hemisfério, sob outras constelações, ouviram os bárbaros que Breda fora vencida sob os mesmos auspícios e pelas mesmas armas com que tinham visto a queda de Olinda, de S. Salvador, de Porto Calvo e outras praças formidáveis além do equador. E assim, aplaudindo aqui os holandeses a felicidade comum, proclamariam lá os brasileiros, em línguas desconhecidas, a nossa glória.

O Conde soleniza o dia da vitória de Breda e dos seus próprios triunfos.

Para se renderem graças à bondade de Deus, solenizou Nassau o dia da vitória, a fim de que nem a distância dos lugares, nem o renome dos holandeses reproduzido no Novo Mundo parecessem obliterar os sentimentos patrióticos no ânimo dos que se achavam