História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Comenda

se achava no porto de Comenda [^nota-65], onde deveriam encontrar-se, alegres de poderem resolver de comum acordo o que se tinha de fazer.

Cabo Corso.

Posta a soldadesca em terra, junto ao Cabo Corso, o primeiro cuidado de Koin foi fazer aguada. Depois, avançando um espaço de meia hora, chegou a um rio, a um morro e a uma planície coberta de viçosa relva, própria para assentar o acampamento.

Os régulos dos negros pedem paz - Ordem do nosso exército - Koin combate com os africanos.

Refeitos aí o comandante e os soldados, dentro de duas horas foram ter a outro monte, próximo da fortaleza. Os régulos negros, alvoroçados, em toda a parte, com estas novas empresas e incertos do futuro, pediram paz, a qual seria ratificada, vencendo-se a fortaleza, e seria írrita, não se vencendo. Se a situação ficasse duvidosa, também eles ficariam dúbios e não seguiriam a ninguém, por temerem aos espanhóis. Alcançando a segurança, acompanhariam o vencedor. Entretanto aprendêramos, por um exemplo recente, que não se devia fiar muito nos pactos de tal gente, pela sua ínsita falta de caráter, já outrora observada nos africanos pelos escritores de Roma, nos númidas, nos cartagineses e nos capitães Jugurta e Aníbal. Tínhamos 800 soldados e 500 marinheiros. Marcharam em três colunas: na vanguarda ia o capitão Guilherme Latan; no meio, o sargento-mor João Godlat; na retaguarda, formada pelos veteranos, ia o coronel Koin. Já se tinham os nossos aproximado da fortaleza um tiro de peça, não longe da aldeia habitada pelos africanos, quando irrompeu dos esconderijos da mata e derramou-se em torno dos nossos um exército de mil negros, com tal ímpeto e alarido que parecia pretenderem o nosso extermínio.Com efeito, sacrificados alguns holandeses e degolados, segundo o costume daquele gentio, os que tinham prostrado, passearam com as cabeças como inequívocos sinais da morte dos inimigos, e se um soldado veterano e experimentado não fizesse rosto àquele robusto exército, o desastre da vanguarda teria atingido às colunas seguintes. Socorreu Godlat os combatentes. Os negros, sem se amedrontarem com os tiros de mosquetaria, não sabiam o que era retroceder. Era tanto o furor dos que afoitamente se arrojavam à luta que expunham o corpo aos próprios canos dos mosquetes. Tal ferócia mostravam contra os mortos que se deixavam matar sobre os cadáveres dos nossos e, empenhados em decapitar os holandeses, preferiam sujeitar a cerviz ao mesmo perigo a desistirem dos seus cruentos despojos. Dos nossos morreram o capitão Latan, o seu loco-tenente, três alferes e cerca de 40 soldados rasos, feridos de dardos.