História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Repararam-se e consolidaram-se as fortificações por toda a parte desleixadas e impotentes contra os assaltos do inimigo, demolindo-se as que pareciam menos necessárias.

Faz os índios voltarem para as suas antigas aldeias - Trata os bárbaros humanamente.

Por salutar resolução do Conde, escreveu-se aos diretores das províncias recomendando-se-lhes permitissem aos índios o voltarem para as aldeias e antigas moradas, porquanto, vivendo os nossos estreitamente, não havia terrenos bastantes para aqueles prepararem a farinha da qual se alimentavam. Iriam, por isso necessitar do nosso mantimento e ainda em cima, habituados à ociosidade, seriam molestos aos agricultores e iriam devastar as terras que lhes cumpria defender dos devastadores. Acrescia que os holandeses se utilizavam gratuitamente dos serviços deles, tornando-os, assim, hostis a nós. Deu, sem dúvida, o Conde notável e raro exemplo de justiça e de eqüidade para com os bárbaros, cumulando-os com todo o gênero de benefícios e decretando para os seus trabalhos digna paga e para os seus serviços e misteres justa remuneração. Antes compadecido que indignado da sorte dos pagãos, favoreceu por humanidade àqueles a quem não o pudera por amor da fé e da religião. Regulou-lhes de tal modo os jornais e soldos que nem despertasse a superfluidade, nem lhes permitisse outra pobreza senão uma pobreza honesta. Assim como é honroso derribar o adversário, assim também não é menos louvável saber compadecer-se do desgraçado e fazer aos vencidos os benefícios que os vencedores lhes haviam de negar. E não lograram abalar aquela mansidão e benignidade os conselhos menos humanos de outros, os quais julgavam que se deveriam tratar os bárbaros mais duramente. Mas o Conde tinha para si que, entre os estrangeiros, haveria para ele o mínimo de ódio, se mostrasse o máximo de humanidade, virtude cujo nome deriva da própria palavra homem. Manifestando-lhes a sua benevolência com liberalidade e elevação, também tornou mais evidentes e vivas as simpatias que eles lhe dedicavam.

Responde a representações dos portugueses

Aos pedidos dos portugueses que reconheciam a nossa autoridade e regiam interesses da sua nação, respondeu Nassau, segundo reclamava o bem e a justiça da República e acordemente com a dignidade das Províncias-Unidas.1) Teriam o seu culto e religião intacta. 2) Isentos de jurar a observância de religião alheia, gozariam de liberdade de consciência, a qual é de direito divino e não humano .3) O Conde e o Conselho valeram para que nenhum dano sofressem os seus templos, salvo em caso de agressão externa que impusesse a necessidade de muni-los e ocupá-los militarmente para a proteção dos cidadãos.