História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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sonhos de ouro, a cobiça da Companhia. Foram mandados ao sertão do Cunhaú [^nota-61] Alberto Schmient e Paulo Semler, que, auxiliados por índios e portugueses, procuraram ali minas e encontraram uma de prata. Pareceu ela opulenta, mas posteriormente enganou a expectativa. Havia também outras, as célebres de Albuquerque. Corria a fama de ter ele mesmo extraído delas grande quantidade de metais, mas não haviam sido ainda descobertas pelos nossos. Andavam igualmente na boca dos portugueses as minas da Copaoba e as do Cabo de Sto. Agostinho. As da Terra Nova, pobres de metais, só forneciam uma pedra que unicamente pelo brilho prometia falsamente muita valia.Não duvido de que os portugueses iludiram a cupidez dos nossos e captaram a benevolência pública com os gabos vãos de riquezas ocultas. Em verdade, aqueles que tantos anos senhorearam o Brasil não deixariam de penetrar nestes arcanos, nem guardariam intatas, para a tardia necessidade dos holandeses, minas de ouro ou de prata.

Volta Maurício para o Recife - Organiza a República.

Chegados os meses de chuvas e expulso de quatro capitanias o inimigo, muniu Nassau as entradas dos rios e guarneceu as fortalezas para resistir às depredações dos índios e dos espanhóis. Regressando das campanhas para o Recife, a primeira e principal colônia do Brasil Holandês, aplicou-se a organizar a república e a sujeitar os cidadãos às leis. Coibiu com penas os vícios que soem grassar nos primórdios das dominações novas. De feito, os holandeses primeiro abriram o caminho para o poder e depois para o desregramento; porquanto, faltando então um governador e achando-se longe os regedores supremos de tão relevantes interesses, facilmente se abandonou a virtude, e, enfraquecida a disciplina, os naturais e os nossos patrícios deixaram as armas pelos prazeres, os negócios pelos ócios, maculando, de maneira vergonhosíssima, a boa fama de sua nação com a impiedade, os furtos, o peculato, os homicídios e a libidinagem. De sorte que era necessário um Hércules para limpar esta cavalariça de Áugias.Todos os flagícios eram divertimento e brinquedo, divulgando-se entre os piores o epifonema: " - Além da linha equinocial não se peca" -, como se a moralidade não pertencesse a todos os lugares e povos, mas somente aos setentrionais, e como se a linha que divide o mundo separasse também a virtude do vício. Mas tudo isto foi suprimido e emendado pela severidade e prudência no novo governador, que coibia muitos abusos, corrigia muitos erros e punia rigorosamente muitos delitos, de modo que se poderá crer