História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

Página 46


V. A., porquanto, sem colonos nem podem as terras ser úteis à Companhia, nem aptas para impedir as irrupções dos inimigos. Se por este modo não se puder realizar a sugestão, desejaria eu que se abrissem as prisões de Amsterdam e se mandassem para cá os galés, para que, revolvendo a terra com a enxada, corrijam a sua improbidade, lavem com o suor honesto a anterior infâmia e não se tornem molestos à República, mas úteis".Carta do Conde e dos Conselheiros aos Diretores da Companhia.O fortalecimento da república, assim tão felizmente conseguido, já parecia prometer mais brilhantes realizações: soldados e navios à disposição, capitães hábeis e prontos para qualquer eventualidade, um general-chefe expedito. Os votos de todos dirigiam-se para a Baía. Entretanto, queixavam-se todos de que eram estorvadas as esplêndidas vitórias e esperanças do Conde pela falta de munições de boca e de guerra, apesar de solicitadas instante, pertinaz e continuamente em todas as cartas e representações à Companhia. Não é de admirar o encarecimento com que o governo do Brasil reclamava tais coisas, pois ao soldado ultramarino não se deve lançar à conta de vício a preocupação dos mantimentos e das armas, por mais ansiosa e antecipada que seja, tendo-se em vista as incertezas do mar e dos ventos. É sempre melhor a previdência dos Prometeus do que a imprevidência dos Epimeteus. Mas nem sempre foi possível aos administradores da Companhia atender às reclamações, por causa da pobreza pública, das opiniões divergentes, das remessas freqüentes feitas por particulares e por outras razões. Li que o Conde e os Conselheiros escreveram isto: - "Dos primeiros resultados nasce o medo ou a confiança. Cumpre insistir agora na fama das empresas tão venturosamente iniciadas, pois a fortuna favorece a execução dos nossos empreendimentos. Quem aspira a um império colonial precisa de ser apressado, senão dá-se ao inimigo ensejo e tempo de coligir forças e perdem-se as oportunidades de o conquistar. A Companhia nos pôs a espada na mão, mas por falta do necessário, impediu-nos usar dela. Seremos mais temerosos ao inimigo, se o atacarmos desprevenido e desapercebido, do que se pelejarmos esperados. Mandai-nos reforços, armamentos e vitualhas. A soldadesca diminui já por baixa já por morte. E sem armas são fracas as guerras e sem víveres sê-lo-ão os militares. Camponeses fornecem farinha, insuficiente, porém, para alimentar as tropas. Gado temos apenas para uso imediato e não para as demoras e contingências das expedições marítimas. Só o respeito ao Conde mantém a soldadesca dentro da ordem, e em tudo mais se