História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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natureza e pela sua construção. Havia também uma igreja de freiras e mais outras. Tinha duas matrizes: a de S. Salvador e a de S. Pedro. Calculavam-se em 200 os moradores, fora eclesiásticos e escravos. Distribuíam-se em quatro companhias de número desigual como se costuma. Eram mais ou menos duzentos os mais ricos.De Olinda estende-se para o sul, entre o rio Beberibe e o Oceano, um istmo, de cerca de uma légua, assaz estreito e arenoso, semelhante a uma costela ou linguazinha. Como noutros lugares, colocou-o a Providência Divina fronteiro a esta costa contra os assaltos do mar. Na sua extremidade existiu uma povoação chamada "Recife" ou "Abrigo" [^nota-56], talvez porque dentro deste e de uma outra língua de terra a ele semelhante, chamado Recife de Pedra, podem e costumam as naus abrigar-se para receberem e despejarem os carregamentos. Tinha esse povoado uma população densa, e no sítio em que o mar corta ao meio o istmo arenoso é o surgidouro das naus maiores, por causa da notável profundidade. Defronte deste, onde morre o Recife de Pedra, que deixa passar as ondas aqui e acolá, existiu uma torre surgindo das vagas com o nome de Castelo do Mar, para diferençar-se do que se via no recife de terra ou areia, denominado Castelo da Terra e pelos portugueses Castelo de S. Jorge.Abandonada Olinda, mudaram para a povoação do Recife os mais dos cidadãos e comerciantes, dotando-a de ótimos edifícios, até que Mauriciópole entrou a empanar-lhe o fulgor. Recife, cingido pelas nossas estacadas do lado que olha para o Beberibe, tornou-se bastante forte, pois o rio é vadeável na vazante.

Ilha de Antônio Vaz.

Tal era o aspecto de Olinda antes de expugnada pelos holandeses, os quais tornaram inexpugnáveis estes Recifes ou angras, assim como a ilha de Antônio Vaz. Já esta brilha com o palácio do Conde - Frigurgo -, magnificamente construído, à sua própria custa, para uso dele e honra do governo -, e bem assim com a cidade Mauriciópole e as pontes admiravelmente lançadas sobre os dois rios.

Igarassu.

A segunda vila, antes povoação do que vila, é "Iguaraçu", mais distante do litoral, em frente a Itamaracá e a 5 léguas de Olinda. Habitaram-na outrora portugueses de condição mais humilde, que viviam das artes mecânicas. Caindo, porém, Olinda em nosso poder, até os seus mais opulentos moradores passaram para Iguaraçu. Tomaram-na os nossos a 1.° de Maio de 1632, incendiando-a e saqueando-a.

Recife.

A terceira vila é o já mencionado Recife.