História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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confiar ali o governo e a quem se reconheceria capaz de tão importante província. Deliberava-se miudamente sobre abastecimento de vitualhas, sobre armas, empréstimos contraídos e por contrair, rendas e impostos, e bem assim acerca do trato africano e do transporte de escravos para a América.

Importância dos feitos da Companhia Ocidental até o ano de 1936 - Número das naus - As tomadas ao inimigo - Soma dos despojos - Danos causados ao inimigo - Preço das mercadorias.

Não era menor a diligência do rei da Espanha, que se aprestava para embaraçar os planos dos holandeses, recuperar as possessões perdidas, munir as periclitantes e utilizar-se das fortificadas. Entrementes, um general não só prudente, senão também atrevido, preparava importante matéria para novos tentames. Direi sem receio que foram tamanhos os apercebimentos para esta guerra até o ano de 1636 que levam de vencida os empreendimentos dos mais poderosos reis. O vulto da empresa faz-lhe perigar o crédito nos ignorantes e nos invejosos. Foi ingente o número das naus: segundo os registros oficiais [^nota-48], mandaram-se mais de oitocentas para a guerra e o tráfico do Ocidente, para África e outros lugares e custaram mais de 45.000.000 de florins, levando-se em conta o preço das naus, os soldos, os bastimentos. Tomaram-se ao inimigo 547 naus, acarretando-se-lhes um prejuízo calculado em seis milhões. Da tomadia reverteram em utilidade pública mais de trinta milhões de florins, soma muito superior à que Paulo Emílio introduziu no erário de Roma. E no entanto, no dizer de Veléio [^nota-49], essa quantia "venceu em importância a de todos os triunfos anteriores". Os danos causados aos espanhóis e a nós inúteis estimam-se em mais de sete milhões. Sobem a vinte e oito milhões as despesas feitas pelo rei, os direitos alfandegários e rendas anuais que lhe tolhemos. Em mercadorias que pareceu lucrativo transportarem-se para a Guiné, Nova Holanda, Cabo Verde, Serra Leoa e rios Senegal e Gâmbia, gastaram-se mais de novecentos milhões de florins, excluídas desta conta as imensas riquezas absorvidas pelas necessidades do Brasil e outros lugares. Por esse tempo, importou-se da Guiné e da Nova Holanda para a Holanda uma quantidade de ouro, marfim, âmbar, couros de boi e peles de preço, no valor de 14.600.000 florins.O nosso século contempla estupefato estas realizações, e o futuro, menos lembrado delas, pasmará de que tantos tesouros tenham entrado, por esforços de particulares, no território das Províncias-Unidas e de que tanta opulência e glória tenham saído das mãos do espanhol. Não bastaram tamanhos cabedais para compensar