História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Os portugueses e os holandeses possuíam o país com governos distintos e contrários. Quatro capitanias eram da nossa jurisdição: Rio Grande, Paraíba, Itamaracá e Pernambuco. As demais obedeciam a Portugal. Nós as garantíamos com fortificações tomadas ao inimigo ou construídas pelos nossos contra os generais espanhóis Albuquerque e Bagnuolo, célebre pelo seu renome militar. Aquele defendia as suas próprias terras, este as do rei.

Estado do Brasil e da possessão antes da chegada do Conde.

A capital da capitania de Todos os Santos havia de novo passado para os portugueses, mais pelos vícios dos nossos do que pelo valor dos portugueses. Entretanto, estavam em poder dos holandeses as principais terras da colônia de Pernambuco, assim como todos os fortes destinados a presidiá-la.

Estado da Guerra - Curaçau.

O comércio da Nova Holanda nem diminuía por derrotas sofridas pelos nossos, nem aumentava por vitórias dignas de nota. Os reinos do Peru e do México e todas as regiões que se estendem para o Ocidente ofereciam oportuna matéria para a guerra. As partes boreais e austrais do Atlântico eram guardadas por naus e esquadras, que iam e vinham conforme as circunstâncias. O terror inspirado pelo nome batavo invadira todas as ilhas setentrionais da América - Hispaníola, Cuba, Jamaica e Porto Rico. Campeche e Trujillo no golfo de Honduras tinham experimentado as nossas armas. Com fortalezas e guarnições ocupávamos as ilhas de Santa Margarida e de Sta. Marta, terríveis pela sua cidadela, e a de Curaçau no mar setentrional. É recente a brilhante fama da batalha travada com D. Luiz Borja, mestre de campo dos espanhóis, saindo vitoriosos os holandeses.De contínuo os generais da Companhia infestavam com esquadras todas as costas do continente americano. Brilhavam sob outros céus os nomes principescos de Frederico, Orange, Amélia, postos em castelos e fortalezas. Não havia descansar das hostes e dos assaltos diurnos e noturnos dos inimigos, que incendiavam os engenhos e devastavam as vizinhanças. Por toda a parte, fumegavam também, com os incêndios ateados pelos nossos, as cidades, vilas, aldeias, oficinas e lojas dos portugueses, e no mar ardiam-lhes os navios e frotas, porque a vingança, raivando, acendia o facho da guerra. Estávamos em luta com alguns dos portugueses e dos bárbaros e em paz com outros. Atraídos estes últimos ao nosso convívio e aliança, deixamo-lhes salva a religião, os lares, as leis e os costumes. Protemeu-se liberdade aos oprimidos, comércio aos negociantes,