História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

Página 3


Enviado com poderes tirânicos, sendo ele próprio um tirano, proclamava que tinha ordens do rei para encarniçar-se contra a vida e os bens da nobreza e da burguesia. Além disso, cercando-se só com o terror inspirado pela sua ferocidade, mandou-se representar pisando os nobres numa estátua insolente e indigna [^nota-4], e provocava, com sua antipática jactância, um renome odioso e o castigo do destino.No segundo período, ressurgia a nacionalidade e de novo se agitava sob o príncipe Guilherme de Orange, cujas façanhas em favor dos aflitíssimos neerlandeses ainda não lograram exprimir os engenhos dos mais ilustres escritores. Sob este e o filho, herdeiro do posto paterno, hesitava a sorte sobre quem nos daria por soberano, pois recusavam os reis o poder que se lhes oferecia [^nota-5] e incitavam ao frenesi homens desesperados e quase vencidos simultaneamente pela fortuna e pela potência dos inimigos. Buscou-se fora quem assumisse o regimento da nascente república e não se pode encontrar, tornando-se manifesta a doutrina de ser a autoridade outorgada por determinação divina e não humana.

Guerra doméstica.

As forças dos insurrectos, a princípio exíguas, circunscreveram-se de preferência nos limites da Holanda e de Zelândia, verificando-se logo a adesão de Guéldria, Over-Issel, parte da Frísia e toda Groninga, até que ocuparam com fortes guarnições certos pontos do litoral do Brabante e também de Flandres. Assim, o povo, pronto para acelerar os seus triunfos, mostrou a sua força e, protegido por Deus, se engrandeceu mais do que o poderá crer a posteridade.

Guerra externa e ultramarina.

No terceiro período, a República, robusta e triunfante sob os ínclitos irmãos Maurício e Frederico Henrique [^nota-6], príncipes de Orange, não somente se defende, mas leva também as armas para fora de suas fronteiras. Dilatando por toda a parte o nosso território, como por um fluxo crescente da fortuna, expulsando exércitos, ferindo prosperamente tantas batalhas, tolerando heroicamente tantos cercos, pondo outros mais heroicamente ainda, já livres dos temores domésticos, levamos nossa bandeira e nossas esquadras à Espanha, à África, ao Ocidente e a um mundo ignorado dos antigos, e, desta sorte, revidamos ao rei a guerra que nos fizera. Através de vastos reinos estrangeiros, divulgou-se o nome dos Estados Gerais; construíram-se cidades e fortalezas, de um lado nas regiões da Aurora, de outro sob os tálamos de Febo; gravou-se o nome dos Oranges e dos Nassaus nas ilhas, nos promontórios, nos litorais, nos fortes, nas cidades; reduziram-se a províncias os países