História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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hostil, onde tudo lhes era infenso, onde o adversário era mais poderoso, mostrava-se-lhes maior o temor do dano que a esperança do lucro. Chegou para o espanhol considerável reforço de 24 vasos, providos de mantimentos e soldados. Mandara-os de Portugal o rei, além de mais dois, que os moradores do Rio da Prata haviam guarnecido cada um com 16 bocas de fogo. Enquanto ali se demoravam os portugueses, foi seu principal cuidado repararem a esquadra rota e estragada e limparem as naus das sujidades ma rinhas, estorvos da navegação. Dominava-os o fundado receio de serem então os seus navios hostilizados pelas naus de Pernambuco, quando estivessem em seco e sem artilharia. Ficou enfim desimpedida toda a armada, que se compunha de 93 velas, entre as quais 24 galeões aterrorizavam pela sua enormidade. Havia outras naus menores no tamanho e desiguais na capacidade, de 400, 150 e 100 toneladas. Conduziam muitos mil homens de armas, alistados na Espanha, Portugal, Baía, Rio de Janeiro e Rio da Prata, os quais ali mantinha o poder real, nem todos experientes, nem todos inexperientes da milícia.Zarparam da Baía de Todos os Santos, em alegre celeuma e com a esperança firme de grandes feitos. Velejaram para Alagoas, onde lançaram em terra dois mil homens, sob o comando de João Lopes Barbalho, rumando daí para Pernambuco. À frente da armada ia uma nau holandesa, a qual, em contínuos disparos de artilharia, contra os espanhóis, indicava aos seus a chegada da frota inimiga, levando esta notícia para o Recife. Não muito depois, apresentou-se corajosamente contra os espanhóis toda a armada holandesa, composta de 33 naus, conforme se acreditava, alentada pela esperança de que o inimigo devia vencer-se no mar; porquanto, se ele desembarcasse a sua soldadesca, em breve se avantajaria aos batavos no exército de terra.Encruecendo a refrega, a capitânia holandesa - a Fama - metendo-se entre os contrários, parou entre a capitânia castelhana e a portuguesa, que tinham os nomes veneráveis de Jesus e de Maria, como se tivessem elas de combater sob o seu patrocínio. A primeira jogava 32 peças, e a segunda 28. Fama atirou, feroz e pertinazmente, contra ambas, caindo uns mortos no tiroteio e retirando-se outros feridos.Apenas havia principiado o combate, quando tombou entre os primeiros sacrificados o almirante dos holandeses, ao iniciar ele a ação, cuja glória não lhe foi concedido testemunhar. Posteriormente vieram os portugueses a saber isso dos nossos. No afunda