Infelicidade da armada espanhola.
aparato assombroso de tantos navios, arruinamos a esperança de se recuperar o Brasil aos que se preparavam para ultrajar a potência da Holanda e mostramos os instrumentos da nossa legítima defesa. Por um revés da fortuna, aconteceu aos espanhóis arrastaram-se assaz morosamente na viagem da Baía a Pernambuco, a qual se pode e se costuma fazer toda mais ou menos em doze dias, pois lutaram alguns meses com o desfavor dos ventos, consumindo a sua água potável, de que muitíssimo necessitavam por causa do calor intenso. Assim, em conseqüência das fadigas e demoras, perdeu-se a armada, que, no primeiro assalto, teria sido poderosa e apta para a vitória.Nestas batalhas, ostentaram-se várias virtudes. Assim, a perícia náutica soube utilizar a vantagem dos ventos e as marés. O arrojo, travando-se com inimigos mais poderosos, envolveu-se nos mesmos riscos que ele. Preferiu a prudência militar queimar e submergir as naus adversas a capturá-las e conservá-las não sem dispêndio público. Pugnou heroicamente a fidelidade, a constância, o esforço. A moderação ficou satisfeita com debandar o adversário, que era impossível abater com tão pequena força. A clemência salvou os inimigos próximos da perdição. Manifestou-se mais de uma vez a amizade, socorrendo os companheiros em perigo. Uma entusiástica pressa, que não consentia folga aos desígnios do inimigo, acometeu-lhe reiteradamente as naus apercebidas para pelejar, mas movendo-se tardamente.Tudo isso consta dos nossos anais e histórias.
Narração dos espanhóis relativa ao que aconteceu nessas batalhas.
Entretanto, aqueles que combateram entre os espanhóis, vendo-lhes mais de perto os desastres, referiram o que passo a dizer, para valer a verdade tanto pela confissão dos contrários quanto pela nossa.Partindo da Espanha a armada, dobrado o Cabo Verde e percorrido o começo do Oceano Etiópico, foi arremessada pelos ventos e correntes em frente do litoral do Cabo de Santo Agostinho. Temendo-se fazer aí o desembarque à conta dos pernambucanos próximos, rumou ela para a Baia, onde cruzavam doze naus holandesas, enviadas para explorar e fazer presa. Acossando elas a frota trabalhada dos incômodos do mar, para lhe poderem desde logo causar dano, os almirantes espanhóis, avisados por uma barca pescareja, entraram o Recôncavo, onde há a proteção da artilharia das fortalezas. E, como logo aparecessem em socorro algumas naus de guerra vindas da Baía, os holandeses, achando não se devia pelejar, largaram a esquadra. De fato, naquela paragem