História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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As construções suntuosas causam amiúde a ruína dos potentados, e as obras feitas insensatamente tornam inúteis as somas com elas despendidas. Entretanto, a Boa Vista, edificada não só para recreio, senão ainda para defesa da ilha e de Mauricíopole, eleva-se próxima da ponte do Capibaribe, aterrando com descargas de mosquetaria, lançadas das guaritas, o inimigo que se aproximasse.

O Conde, por causa da chegada da frota espanhola, cuida em toda a parte das fortificações.

Após a partida de Artichofski, Nassau, livre das questões | domésticas, que lhe respeitavam principalmente como particular, repartia seus desvelos por terra e por mar, e julgava que, em toda a parte, se devia olhar para as fortalezas da costa e do interior, de prevenção contra a súbita chegada da esquadra espanhola, que se demorava na Baía de Todos os Santos, afim de não desembarcar o inimigo em parte alguma, caindo improvisamente sobre os holandeses desapercebidos. Ele próprio, dirigindo-se à Paraíba, mandou restaurar as fortificações arruinadas, providenciando cuidadosamente todo o necessário à defesa desta província. Muniu o forte de Margarida com uma paliçada, por estarem secos os fossos, que as areias trazidas pelas enxurradas haviam enchido. Cercou também com uma paliçada semelhante o forte da Restinga, fronteiro ao porto. Reduziu, porém, o forte de Santo Antônio do norte [^nota-242] a uma torre de vigia, refazendo-lhe o parapeito e provendo-o de três peças contra os opugnantes. Na Ilha de Antônio Vaz levantaram-se três baterias no hornaveque. Protegeu Maurício também o forte de Orange, na ilha de Itamaracá, cingindo-o de estacada, e o mesmo fez com o de Ernesto e o de Frederico na Ilha de António Vaz, com o do Príncipe Guilherme nos Afogados, todos por falta de água nos fossos, e com a própria frente do Recife. Igual tarefa executou Herckmann no Cabo de Santo Agostinho, onde está o forte de Van der Dussen, e o coronel Koin em Porto Calvo, onde chuvas violentas e tempestades haviam danificado o forte de Boa Ventura, fazendo-o ruir em mais de um lugar. Restaurou-se também a fortificação ao sul de Olinda, para não ficar a cidade aberta aos salteadores, depois de retirada a guarnição.

Insidia naus inimigas.

Por toda a parte levantaram-se tropas, ordenando-as sob novos capitães, tenente e alferes, afim de não faltarem aos soldados chefes para mandá-los, e aos chefes soldados bem disciplinados para obedecer-lhes. Enviaram-se algumas naus para insidiarem as naus inimigas que se acreditava transportarem mantimentos do Rio da Prata e do Rio de Janeiro. Para não sentirem os nossos penúria de bastimentos, proibiu-se a exportação de carnes salgadas, touci