História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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DESCRIÇÃO DO RECIFEPode-se dizer que esta praça é a mais forte do Brasil e uma das mais fortes do mundo; também os Governadores e altos magistrados da Companhia das Índias Ocidentais para os Estados Gerais aí residem e possuem seus armazéns, aí aportam todos os navios, como lugar onde floresce o comércio. Está situada a oito graus além do Equador, à borda do Oceano, que tem por oriente; tem ao Ocidente a terra firme, ao norte a cidade de Olinda, Goiana, Paraíba e Rio Grande e suas costas estão voltadas para o Equador; na parte meridional estão o Cabo Santo Agostinho e as margens do Rio São Francisco, em direção à Baía de Todos os Santos.

Rocha do Brasil A. Forte de pedra do Recife B. Ilha ou dique natural do Recife. Rio Salgado do Recife D. Ilha ou dique natural do Recife C. Rio Salgado do Recife C. O porto do Reciufe E. Recife F. Baluarte do Recife G. O Hospital H.Dependem desta fortaleza várias outras; sua situação é maravilhosa e não poderia ser melhor escolhida. Para bem imaginá-la é preciso observar que o Brasil, de uma a outra extremidade, que se diz ter mil e cinqüenta léguas, é inteiramente costeado por uma rocha grande, longa e chata, comumente da largu-ra de dez a vinte passos no mar e mais ou menos um tiro de mosquete distante do litoral, da altura de um pique ou mais, que se percebe quando há vazante e não de outro modo, porque está toda coberta. Se não fossem as ruturas desta rocha em vários lugares que servem de passagem aos navios para entrar e sair, ela constituiria um perpétuo escolho ao longo das costas do Brasil. O Recife está construído não em frente a uma dessas brechas, mas a quinhentos passos além, numa das orlas desta passagem, da largura de cem passos e sobre a própria rocha, do lado meridional. Há um forte de pedra, redondo, de cem passos de círculo, que o mar banha de todos os lados, munido de vinte grandes peças de ferro fundido e de uma guamição ordinária de cinqüenta homens, e do qual os navios que chegam devem dar-se conta para não se aproximar muito; ancoram a meia légua dele e depois vêm dar-se a conhecer nos escaleres com as cartas trazidas para Recife; isto feito, envia-se uma deputação a estes navios a fim de examiná-los, antes de conceder-lhes entrada no porto.Ao pé do monte sobre o qual está construída a cidade de Olinda, à borda do mar, começa uma ilha ou, melhor, um dique natural; tem cerca de duzentos passos de largura e uma légua de comprimento do lado meridional, entre a terra firme e esta grande e espaçosa rocha, que fica no mar, a qual se divide aqui e ali, ao pé do monte, constituindo pequeno trajeto que se pode atravessar livremente quando a maré está baixa: a água que se encontra entre a praia e o dique chama-se o rio salgado, pois há um rio de água doce a uma légua para o interior; a que está entre este mesmo dique e a grande rocha chama-se o Porto do Recife. Ora, foi sobre a ponta, cabo ou extremidade deste dique que edificaram Recife, composto de alguns milhares de casas. Não há defesa alguma a-quém nem além do porto e do rio salgado, a não ser três baluartes revestidos de pedra, guarnecidos de duas baterias, cada uma de três peças de ferro fundido, uma no caminho da cidade de Olinda pelo dique, outra que domina o rio salgado e a outra no porto. Mil passos adiante, há sobre o dique, também, um bom forte de pedra, que serve como hospital e onde, pelo menos, há sempre uma companhia de guarda, três baterias de quatro canhões dominando o dique, o porto e o rio salgado.