O fígado era amplo; duplo o estômago, sendo um anterior, onde é recebido primeiramente o alimento; em seguida vinha o intestino da grossura de um dedo mínimo e do comprimento de dez dedos; a esta estava anexo outro ventrículo, onde é digerido inteiramente o alimento; depois vinham os outros intestinos até o reto. No ventre anterior, havia grande quantidade de farinha de mandioca e de milho de Angola cru; o posterior, que é o maior estava cheio de alimento um tanto digerido, no qual se achavam muitos vermezinhos vivos, semelhantes aos que aparecem nos queijos. O último intestino ou o reto continha estéreo. Tirada a pele e amputada a cauda, ainda vivia o animal. Este animal é de vida resistente, nem morre com cinco ou seis golpes, na cabeça; é preciso que a cabeça seja transpassada por uma faca; então sim morre pela hemorragia; a carne da cauda consta só de fibras e nervos. No mês de dezembro de 1641, vi sair uma pedra do estômago do semembí, do tamanho e figura de um ovo de galinha, um pouco, porém, mais achatada; exteriormenre era branca e lisa; interiormente, composta de túnicas como a cebola, de sorte que se podia separar uma da outra, quebrando-se com a pedra. Internamente era de cor branca ou grisalha, de uma substância dura como o Bezoar. São estes animais apanhados com corda, porque costumam agarrar-se às árvores; os indígenas, tendo o conhecimento disto, adaptam a uma longa vara uma corda; o animal admira-se à vista disso, não se move, mas deixa-se laçar e assim é apanhado; aliás corre com incrível velocidade. Estes animais, quando mais novos, são de cor verde; quando crescem tornam-se de cor variada ou cinzenta; quando envelhecidos, são geralmente de cor fusca ou cinzenta. Nota. Disse acerca deste animal que se encontra em grande quantidade, em toda a América, desc. Ind. Occid. lib. I, cap. IX. Aí observei que Fr. Ximenes escrevia:- Encontram-se algumas vezes na cabeça deste animal, umas pedrinhas que, como poderosíssimo remédio dissolvem e fazem sair as pedras dos rins, quando são tomadas, em líquido conveniente, na quantidade de uma drama ou se são ligadas ao corpo. Não me consta, porém, que gozem das mesmas propriedades as que se encontram no estômago; no meu modo de ver poder-se-ia sem perigo fazer a experiência.
CAPÍTULO XII Tejucuaca. Temapara. Taraguira. Amerícima. Carapopeba. Ameiva. Taraguico.Aycuraba. Tejunhana. Todos os Lagartos. TEIUGUACU e TEMAPARA. (termo dos tupinambás). Lagarto notável. Na figura do corpo, cabeça, olhos, boca, pés e cauda, assemelha-se ao semembí, do qual difere no seguinte: Primeiramente a cor do corpo é preta, salpicada de umas manchas brancas, elegantíssimas; e em direção à parte extrema da cauda, acham-se como que seis acúlios quase brancos. Em segundo lugar a cauda é mais grossa, na ponta; em terceiro lugar, não se acham os aguilhões dentados, ao longo do dorso; em quarto lugar, nos pés posteriores, o dedo externo é um pouco mais afastado dos outros e mais curto; em quinto lugar a língua é bifurcada, longa, vermelha, lisa, a qual este animal estende até o comprimento de um dedo e recolhe, como as serpentes. Não emite som algum; é paciente; gosta de ovos, os quais, absorve crus; tolera muito a inédia. Conservava um preso, e tendo fugido, permiti que corresse livremente pelo quarto e dei-lhe de beber água de um vaso de vidro; desta maneira andava, quando sentia sede; de outro modo ficava assentado, no seu canto ordinário; gosta também de se assentar em cinzas quentes. No dia vinte de março, alguém lhe tinha estragado parte da cauda, pisando-a; depois cresceu, no comprimento de dois dedos. No dia primeiro de julho, morreu inteiramente mirrado pela inédia; de fato tinha passado sete meses sem comer; somente tinha lambido um pouco d'água. A sua carne serve para se comer.Plínio, lib. II Nat. Hist. cap. 37, escreve: Os lagartos têm a língua bifurcada e pilosa. Idem, cap. 50 diz: As caudas amputadas dos lagartos e serpentes se regeneram. O mesmo admite Arist. Hist. Anim. lib. 2, cap. 20. Diz também: Os lagartos não chegam a viver um ano, mas