História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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CAPÍTULO IX Maraguô. Cuandu. Jíya. MARAGUAO ou MARACAIA (termo indígena). É o gato silvestre do qual aqui se encontram muitos indivíduos de várias cores. Geralmente são de um pêlo amarelado com manchas pretas como o tigre; como este gritam e rosnam e se limpam como nossos gatos. Os olhos são também felinos com uma pupila redonda e preta; os ouvidos são arredondados como o Cuguacuaraná; a barba também é semelhante à deste; não se domesticam. Gostam de comer galinhas, às quais eles dilaceram e devoram avidamente.C U A N D U (termo indígena). Ouriço cachiero (em português) eenysen Vercken (em flamengo). E do tamanho de um macaco grande, tendo o corpo forrado de espinhos, de três ou quatro dedos de comprimento, mas não tem cabelos. Estes espinhos são amarelados (como o branco das penas) da inserção da pele até quase à metade longitudinal; o resto é preto; a ponta é branca; algumas vezes em lugar do preto, a cor é parda avermelhada n'alguns. Os espinhos deste animal são pontudos como agulhas e ele pode expeli-los de si. O comprimento do occipí cio ao início da cauda, é de um pé "Rhynland"; o da cauda é de um pé e cinco dedos; também a cauda, do princípio ao meio, tem espinhos; a metade exterior é nua com umas pequenas cerdas, como os porcos. A cabeça mede cerca de três dedos e meio de comprimento e é também coberta de espinhos; lisa, porém, junto à boca e as narinas; as orelhas são pequenas e quase ocultas sob os espinhos; a boca fica bem em baixo, perto do pescoço, e é semelhante a da lebre com dois dentes, que são visíveis por fora. As narinas são patentes e o focinho amplo e quase quadrado; os olhos são redondos, proeminentes, brilhantes como o carbúnculo; há muitos pêlos ao redor das narinas e da boca, num comprimento de quatro dedos, os quais constituem uma barba de gato ou de lebre. Os pés são semelhantes aos do macaco, mas só têm quatro dedos, faltando o polegar, do qual só existe o lugar como se tivesse sido amputado. Os pés anteriores são menores que os posteriores; o comprimento das pernas anteriores é de cerca de quatro dedos; o das posteriores, um pouco mais. As pernas têm espinhos, mas não os pés. Durante o dia, geralmente dorme; de noite vaga e respira como se estivesse arquejante; gosta de comer galinhas. Emite um som como o porco iii; sobe às árvores, mas com vagar, porque, como disse, não tem polegar; ao descer, rodeia a árvore com a cauda para não cair; tal é o medo que tem de cair, nem é capaz de saltar. A carne deste animal é boa e deliciosa; muitas vezes eu a comi e os habitantes do país muito a estimam. Nota. Este animal parece ser o idêntico ou então muito semelhante ao que Fr. Ximenes descreve com o título Tlaquatzin espinhoso. O Tlaquatzin espinhoso, diz, é do mesmo formato e tamanho que o Tlaquatzin de cor preta; é este animal coberto de espinhos ocos e agudos, do comprimento de quase um palmo, semelhantes aos espinhos e aguilhões do ouriço, embora tenha uma mescla de pêlos brancos à semelhança da lã, com exceção da cabeça. Este animal é branco, mas com o andar do tempo, torna-se preto; lança de si os espinhos contra os cães ou os homens, que os ofendem e perseguem. Estes espinhos ficam aderentes que não podem ser tirados por força ou destreza; penetram pouco a pouco na carne por virtude natural, chegando até às vísceras; deste modo provocam o humor do corpo. Os bárbaros conservam cuidadosamente estes espinhos e afirmam que nove deles, reduzidos a pó fino e depois tomados no vinho, numa determinada quantidade, expelem os cálculos renais e vesicais trazem também grande utilidade para curar a dor da cabeça, quando aplicados à fronte ou às maxilas, onde de tal