medir de sua origem; depois é nua, sendo coberta de uma pele de cor preta, numa extensão de quatro dedos e branca, nos quatro seguintes, com mescla de cor cinzenta; a cauda é redonda, mas vai-se pouco a pouco afinando. Este animal é curioso. No baixo ventre, perto das pernas traseiras, a pele é dupla e forma exteriormente um sulco de dois dedos e meio de comprimento, constituindo uma espécie de bolsa, chamada pelos indígenas Tambejo, da capacidade de uma laranja grande. Esta bolsa é peluda, na parte interna, e contém, na pele interior, junto ao ventre as tetas com oito papilas; a entrada da bolsa é tão cerrada que não é percebida, a não ser que se faça uma separação de dois dedos. Esta bolsa constitui o útero, porquanto não existe outro como verifiquei com a disseção; aí se formam os filhotes. O animal que descrevo tinha na bolsa seis filhotes vivos com membros perfeitos, mas sem cabelos; moviam-se daqui e dali, tendo cada qual o comprimento de dois dedos. Os filhotes são conservados, na bolsa até que possam procurar o alimento; nesse ínterim saem às vezes fora, mas tornam a entrar. Sua pele facilmente pode ser tirada como a da raposa ou lebre, fazendo-se o corte no ventre; este animal fede como a raposa ou Marta, e é mordedor. Gosta este animal de comer galinhas, as quais arrebata como a raposa e assalta as aves, subindo pelas árvores; alimenta-se também de cana de açúcar, com a qual eu o sustentei em meu cubículo, durante quatro semanas; morreu enfim tendo-se emaranhado na corda, com que se achava ligado. Fiz sua dis seção e conservei sua pele recheada de algodão. O macho é em tudo semelhante à fêmea; tem os testículos bem desenvolvidos, situados numa bolsa, semelhante à do gato. Nota. Dei a descrição deste animal, conforme Fr. Ximene, na descrição da América, lib. v, cap. IV, da qual para aqui só trago o seguinte: A cauda deste animal é um remédio singular e admirável contra a nefrite, porquanto se é retalhada, posta de infusão n'água, e desta quando se toma a quantidade de uma drama algumas vezes, em jejum, produz-se a purificação dos uréteres; são expelidos os cálculos e outras coisas que os opilam; também desenvolve a produção do leite; alivia as cólicas; traz vantagem às parturientes e acelera o parto; provoca os menstruos; Além disso se triturada for aplicada a espinhos introduzidos na carne faz com que saiam; serve também de purgativo; penso até que na nova Espanha, não se encontra outro remédio de tanta utilidade. Este animal vive, nos lugares quentes, e se alimenta de carne, frutos, ervas e pão; por esse motivo muitos o conservam em casa a título de recreio.TAI-IBI (termo indígena). Cachorro do mato, (em português). Boschratte (em flamengo). Animal de corpo arredondado e oblongo Do occípio ao início da cauda, o comprimento do corpo com o pescoço é de quatorze dedos; a grossura é de dez; a cabeça é semelhante a da raposa; a boca, aguda; a barba felina; os olhos, salientes e pretos; os ouvidos arredondados, moles, delgados, brancos, tenros como um papel mole. Tem pernas, pés, dedos com unhas e cauda como a fêmea já descrita; o corpo é coberto de cabelos brancos lustrosos com extremidades de cor escura um pouco mais carregada, no dorso, e mais ainda nas pernas; junto do ânus e no início da cauda a cor é quase preta; a boca e os ouvidos são brancos. A cauda, do seu início até o comprimento de cinco dedos, é coberta de pêlos brancos, um pouco escuros na extremidade; a parte restante, a maior, é revestida de um couro tênue, escamoso, branco à semelhança da pele das serpentes. Dificilmente engorda; a carne, todavia, é comida por eles. Gosta de comer galinhas, como as raposas; os pêlos aderentes à tênue pele podem ser arrancados, permanecendo o couro mais grosso. Tem os testículos propendentes como os do gato.
CAPÍTULO III Várias espécies de coelhos indígenas. A PEREA (termo indgíena). Veldratte ou Boschratte (em flamengo). É uma espécie de coelhinho com o corpo oblongo, do comprimento de cerca de um pé, da grossura de sete dedos; facilmente se domestica. Os cabelos de todo o corpo são semelhantes os de nossas lebres; no ventre são, porém, brancos; nas outras partes, são da cor mencionada. Tem o lábio fendido e quatro dentes; dois em cima, dois em baixo; tem também uma barba leporina e cabelos deste gênero, perto dos olhos; isto é, entre a boca e os ouvidos; estes, porém, são diferentes dos da lebre, isto é, são curtos, arredondados, porquanto não excedem o comprimento transversal do dedo mínimo. Suas pernas dianteiras medem cerca de três dedos de comprimento; as traseiras são um pouco mais longas; nos pés dianteiros, acham-se quatro dedos com a pele preta e unhas pequenas, não proeminentes; nas traseiras, há somente três, das quais o médio é mais longo do que os outros. Caminha como a lebre, de sorte que as pernas traseiras, junto da junta ou curvatura, são cobertas de um invólucro duro e do mesmo modo os pés. Não tem cauda; * a cabeça é um pouco mais aguda do que a da lebre; a carne é semelhante à da lebre. Vive do mesmo modo que ela e usa do mesmo domicílio.TAPETI (termo indígena), também é uma espécie de coelhinho maior do que a Aperea; é duplamente maior do que o arganaz; na figura é como os nossos; na pele e cor assemelha-se