História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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GUIRATlRlCA (termo Indígena). Ave do tamanho da cotovia. Seu bico é grosso, reto, fusco em cima e em baixo branco e um pouco encarnado; as pernas são cinzentas com quatro dedos, dispostos como sucede comumente. A cabeça, a garganta, e parte inferior e média do pescoço são de uma notável cor sangüínea; os olhos são azuis; os orifícios dos ouvidos, amplos. Os lados do pescoço, todo o peito e baixo ventre são cobertos de penas brancas; a parte superior do pescoço tem penas um tanto pretas com mescla de brancas. O dorso é grisalho (salpicado de preto), como o início das asas; o resto das asas e bem assim a cauda, que mede três dedos de comprimento, são pretos; as pontas laterais das asas são brancas.GUIRANHEEMGATU (termo dos tupinambás). Ave do tamanho do pardal. A parte superior da cabeça e a garganta são alaranjada; o pescoço, o peito e baixo ventre são amarelos; as asas e a cauda destacam-se por uma mescla de escuro e amarelo esverdeado; os olhos e bico são pretos; as pernas escuras. O macho canta admiravelmente como o tentilhão, vulgarmente chamado Dincke.* A fêmea, que é do mesmo tamanho, tem plumagem semelhante à do pardal; não canta do mesmo modo, mas grita, tschrip tschrip. CAPÍTULO XII Curucui. Caracara. Tijeguacu. Teitei. Guiraguacu berába. Guiracoereba. Guiraperea. Japacani. Cabure. Andira aca. C U R U C U I (termo indígena). Ave elegantíssima, quase do tamanho da pega. Seu bico é curto, um tanto largo e de cor sulfúrea. Sua boca é ampla e triangular, quando aberta; os olhos são belos e cerúleos com uma íris áurea e, debaixo de cada olho, há uma mancha de pele branca, como sucede com a galinha; em cima e em baixo das pálpebras, há uns pêlos pretos um pouco duros. O pescoço não é longo; as pernas são curtas e quase cobertas de penas pretas, junto dos pés; a cauda mede cinco dedos e meio de comprimento e é um pouco larga. No meio da parte inferior do bico e dos lados, acha-se uma barba de fios pretos, mas aparece, no meio deles, uma cor cerúlea como no pescoço dos ádens; debaixo da garganta há umas penas pretas. O peito e o baixo ventre são de uma bela cor vermelha viva; o dorso e a parte superior da cauda são de uma cor verde brilhante com mistura de cerúleo e ígneo. A extremidade da cauda tem uma orla preta; a parte inferior da cauda tem penas brancas, com umas elegantes estrias transversais pretas. O princípio das asas brilha com um verde vivo; a parte média tende para o branco, isto é, tem penas um tanto escuras, salpicadas de pontinhos brancos, como acontece com os ádens machos; a última parte, isto é, as longas penas das asas são pretas com mescla de fusco. As pernas, como disse, são na quase totalidade, cobertas de penas pretas; no resto, bem como nos pés domina a cor fusca cinzenta. Os lados são dispostos, como nos papagaios; as penas, debaixo das asas são brancas.CARACARA (termo indígena). Gaviaon (em português). Ave do tamanho do milhafre com uma longa cauda do comprimento de nove dedos; o comprimento das asas é de quatorze dedos, mas estas não atingem o fim da cauda. A cor das penas é parda amarelada com pontinhos brancos e amarelos; na cauda, há uma variação de branco e fusco; a cabeça é como do abutre; o bico é adunco, mediocremente grande preto. As pernas são de cor de barro com pés semelhantes aos do abutre e unhas semilunares, pretas, agudíssimas e longas. Esta ave é prejudicial às galinhas.