História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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quatro dedos desta, acham-se, na parte superior, os olhos, distando entre si dedo e meio maiores do que uma grande moeda (diante deles há um vestígio de orifício) com a pupila cristalina, com um círculo áureo cerúleo. Em vez de guelras, encontra-se uma fenda de dois dedos de comprimento e mais de um de largura. Três dedos atrás dos olhos acham-se no dorso dois chifres, um da grossura duma pena de cisne e do comprimento de três dedos, um pouco inclinado para a parte posterior; outro pequeno, anexo ao primeiro por uma membrana; ambos podem ser abaixados e ocultados numa fenda. A um intervalo de três dedos e meio para trás, acha-se uma nadadeira, quase triangular, no começo, e daí vai-se afinando até quase à cauda, que tem o comprimento de cinco dedos, e de largura, no começo, mais de dois. De fronte desta, no baixo ventre há uma da largura de dois dedos e meio, indo-se estreitando cada vez mais, em direção à cauda. Esta brota do corpo, com forma quadrada, e tem uma nadadeira de quatro dedos de largura e dois de comprimento, indo terminar em dois chifres, separados entre si por um intervalo de quatro dedos. No meio inferior do corpo, encontra-se uma pequena nadadeira, diante da qual há um chifre de dedo e meio de comprido. As nadadeiras são sustentadas por espinhas e são de cor azul; o ventre é esbranquiçado. É revestido de escamas elegantes, marchetados, na sua superfície, de pontinhos de cor azul-mar com sombreado de índigo sendo, no dorso, um pouco mais azul. Do alto da boca até às nadadeiras, situadas atrás das guelras, correm, de um e outro lado à distância de um dedo entre si, duas linhas largas, cerúleas. Come-se este peixe assado; cozido não presta. Nota. As imagens do peixe denominado Caper ou Caprisco, apresentadas por Gesner, diferem com as do nosso autor; da mesma maneira, as descrições. Julgo, pois, que o nosso é de uma outra espécie, CUCURI (termo indígena). Cassaon (em português), (espécie de cão marinho, a cujo respeito pode-se consultar Gesner p. 205), do gênero dos tubarões. Este peixe tem dois dedos e meio de comprimento, terminando-se a cabeça em hipérbole e ficando a boca um pouco em baixo. Tem uma única série de dentes mínimos, por isso não pode prejudicar; os olhos são pretos do tamanho de uma ervilha. As nadadeiras como nos tubarões, são sete, a saber: duas após aquelas cinco incisões, triangulares; no meio do baixo ventre duas pequenas; no meio do dorso, uma grande, triangular, levantada e um pequeno da mesma figura, junto da cauda, que é semelhante à do tubarão, como também se assemelha a ele, em todo o corpo e com a mesma cor. Esta é branca, em toda a parte inferior, o dorso e os lados são cinzentos transparecendo algo de argênteo; as nadadeiras são cinzentas, excetuando-se as pequenas, na parte inferior, que são brancas. A cauda é cinzenta. O que aqui descrevo tinha no ventre três filhotes; donde se vê que come carne. Sua carne é seca, sem espinhos; igual a do Corcovado. Muitas vezes a comi.PIRAYA e PIRANHA (termos indígenas). Peixe do comprimento de um pé com o corpo de seis dedos de largura, onde esta é maior; o dorso é encurvado; a cabeça obtusa como a Dorada. O hiato da boca é parabólico; esta pode ser totalmente fechada e possui pequenos lábios, com os quais ficam cobertos de dentes. Estes constituem duas ordens superior e inferior; são triangulares, brancos, agudíssimos, em número de quatorze, em cada mandíbula (os menores têm doze) com os quais pode arrancar, com uma dentada, um pedaço de carne de qualquer homem, como se fosse arrancada por uma navalha. Se uma pessoa entra na água ou ao menos introduz nela o pé ou a mão, pode ser ferido por ele; tem tanta sede de sangue e desejo da carne humana, que devemos fugir dele. Os olhos são redondos, pequenos, cristalinos com a