História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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sucede com a betula. A casca é em geral de cor fusca salpicada de cinzento; a casca dos raminhos se assemelha à dos raminhos novos da betula; a madeira é flexível, tendo uma pouca medula por dentro; cortada ou batida deita um humor lácteo. Produz esta árvore umas folhas pequenas, sólidas, verdes vivas, opostas duas a duas, tendo um nervo no sentido longitudinal e umas veias ou linhas finas transversais, paralelamente colocadas; dá flores dispostas como o jasmim, de cálices de um dedo ou um e meio de comprido, os quais em cima se abrem em cinco folíolos acuminados, aparentando uma estrelazinha; estas flores são brancas, de agradabilíssimo aroma, como a maravilha peruana cheirosa; floresce a árvore em outubro e novembro. A Mangaba é um fruto do tamanho de nossas ameixas ou até de um ovo de galinha; algumas são ovais, outras, redondas; não são comestíveis a não ser que caiam, porque, estando no pé, são impregnadas de leite acre e amargo. Quando cai, possue a mangaba uma cutícula verde-amarela, marchetada de um lado por uns pontinhos vermelhos vivos; nalgumas delas os pontinhos são mais raros, noutras mais abundantes e em outras não existem. Dentro se acha uma polpa branca, mole como manteiga, de agradabilíssimo sabor vinoso acre; nessa polpa se encontram sementes lúteas, chatas, em número de seis, sete, doze ou mais, ovais, com um umbigo no centro; a casca se assemelha a das amêndoas doces mas é mole; estas sementes contém um núcleo alvíssimo de sabor doce, por isso são engulidas com o fruto. Esses frutos maduros são colhidos em grande quantidade; os que não se acham bem moles são conservados até que amoleçam; embora se coma desses frutos em alta escala, não se sente moléstia alguma. Para a produção desta árvore é preciso empregar semente, não muda, confiando-a à terra seca, onde não haja ervas luxuriantes. Na Baía de Todos os Santos, encontram-se bosques inteiros, nativos, desta árvore; nos arredores de Olinda, os frutos ficam maduros em novembro e dezembro, sendo abundantíssimos em janeiro e fevereiro. Junto ao rio S. Francisco e na capitania do Sergipe, amadurecem tardiamente, tornando-se abundantes em abril e maio, casualmente se encontram também em junho e julho. Quando o fim do estio é muito seco, isto é, em fevereiro e março, como aconteceu em 1643, obtem-se grande quantidade de frutos maduros, em julho e agosto porquanto em virtude do calor a natureza é levada a dar flores em março e abril, sucedendo-lhe os frutos em julho e agosto.