História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

Página 70


Provoca grande quantidade de pituíta da língua e assim livra a cabeça do catarro e mitiga a dor de dente.Sua raiz cortada e infundida nágua fervida e depois bebida de manhã, constitue poderoso remédio contra a gonorréia; serve também contra venenos, falta, de urina e cálculo.MARUURU (termo indígena). Arbusto inferior, que cresce até à altura de meio pé ou de um, com folhas semelhantes às do salgueiro diretamente opostas, achando-se uma isolada, na extremidade; produz uma flor amarela; um fruto do tamanho e formato da ameixa, amarelo e doce, mas não presta para se comer.CAPÍTULO IXMurucuia ou flor da Paixão. Suas várias espécies MURUCUIA CUACU E GUAINUMBI ACAIUBA: Granadilla (em espanhol) Flor da Paixão (na linguagem vulgar) - Rhangappel (termo empregado pelos belgas, residentes no Brasil). É uma hera frutífera, da qual há várias espécies. Vou descrever as que produzem fruto comestível.1. MURUCUIA GUACU ou pintorme. Planta vimínea, lenhosa muito flexível. O caule é torcido, quadrado, variado de cor cinzenta ou griséia da grossura de um polegar, às vezes da grossura da videira ou de um braço; longamente se estende e adere às árvores ou arbustos. Tem folhas de cor verde vivo, lisas, brilhantes, do comprimento de cinco seis dedos, não dentadas, de figura desigual. Umas são simples; outras, divididas em duas e até três partes ou lacínias. Aderem ao caule por meio de pequenos pedícu-los avermelhados; um nervo se estende ao longo das lacínias; transversalmente se acha um trançado de muitas veiazinhas. Esta planta produz uma flor notável, cognominada da Paixão; do tamanho de uma rosa grande, em pleno desenvolvimento, tendo externamente cinco folhas de um purpúreo carregado, em cima e em baixo, e outras cinco verdes em baixo, vermelhas em cima, colocadas alternadamente. Sobre estas folhas, estendem-se circularmente filamentos salientes, do comprimento de dedo e meio, crespos, purpúreos, na metade interior, mescladas de vermelho ou purpúreos e brancos, na exterior No centro da flor, encontra-se uma coluna de um amarelo claro, redonda e quase torneada, da largura de um dedo; encimada por um ápice de figura oval, do tamanho de uma semente de pêra. A esta parte ficam aderentes, num só lugar, por meio de umas pontas, uns cravos; debaixo de uma figura oval, do ápice da coluna se estendem dos lados cinco braços, dos quais cada qual contém um pequeno corpo esponjoso, salpicado de um pó como sucede com o lírio; (Lilium) quando todo o pedículo (?) exterior da flor se abre, pode-se extrair da flor toda a coluna. A flor arrancada fenece facilmente e nela são geradas vermes, como sucede com o queijo. O fruto é periforme; no começo, é verde ; quando maduro, é mesclado de amarelo e verde; internamente é dividido em três partes, no sentido longitudinal, por três linhas, entre as quais se acham vários processos (*) às quais adere a semente com a polpa do fruto por meio de tênues cutículas. A polpa é branca, suculenta, glabra, semelhante à ave em formação no ovo, ficando-lhe aderentes, em cada fruto, grãos de semente, em número de duzentos e sessenta ou mais, pretos, lustrosos, achatados, cada um envolvido em seu folículo. O odor e sabor do fruto é agradável e suave; a casca é mais grossa do que a da laranja. Para se comer este fruto, deve-se dividi-lo transversalmente (não no sentido longitudinal); separa-se da casca a polpa, que adere às protuberâncias e depois deve-se chupá-la com as sementes; como se toma um ovo mole. Quando se quer colhêr a semente e guardá-la, espreme-se a polpa com as sementes por meio de um paninho; assim faz-se a separação dos grãos. Em seguida, esses grãos, ainda encerrados em seus folículos devem ser colocados, pelo espaço de três ou quatro dias, num papel para que fiquem