Pequenos estames brancos. A raiz mede meio pé ou mais de comprido; é um pouco curva, tendo umas poucas radículas; é lenhosa, mole, coberta de uma casca de cor escura, que pode ser tirada. Esta planta com sua raiz é suculenta; quando se quebra o caule ou a raiz, logo emana um suco de cor cerúlea. Com ela se fabrica o Anir, socando-se a erva e ajuntando-lhe água; deixa-se assentar e expõe-se ao sol o resíduo; equivale ao ouro em peso.Nota. Fr. Ximenes. Existe uma outra planta do mesmo nome que a precedente, que dá uma cor cerúlea, muito saturada com que as mulheres tingem os cabelos de preto, mas difere da outra em tamanho e formato. É um arbusto medíocre, que deita muitas raízes como sarmentos com várias fibras; delas procedem muitos troncos cinzentos; tem folhas semelhantes às de piper longo, embora um pouco maiores, com uns nervos, que a percorrem, no sentido longitudinal. As flores são cândidas a maneira de cabelos; a planta é considerada úmida e fria. O modo de produzir a cor é idêntico ao precedente, mas a cor é peor e menos estimada; porisso não vale a pena acrescentar algo sobre a maneira de produzi-la. Estas coisas diz ele. Disto se conclue que se trata de uma outra espécie de planta da qual se tira o azul. Foi opinião comum dos botânicos que a tintura hoje bem conhecida Anil e índigo ou Indico é feita da Isatis ou ao menos de uma planta semelhante, porisso pareceu-lhes estranho que comparassem com o manjericão ou basílico ou plantas semelhantes, cujas folhagens de modo algum convém com a Isatis, bem conhecida, aqueles que descrevem plantas peregrinas; daqui se originou a controvérsia entre Car. Clus. e Fragosus. O mesmo afirma que duma semente com o nome de Anil, enviada de Alexandria, nasceram-lhe umas espécies, que se achavam como cobertas de folhas de lentilha menor ou colútea e apresentavam flores lúteas, semelhantes ao esparto dos gregos (os espanhóis a denominam rejama). Pensa que esta planta era antes a Sesban, que Alpino descreve entre as plantas do Egito. Procurei exprimir exatamente um râmulo com folhas, trazido pelos nossos da Índia e o dei, na descrição do Império Mongol. Fazendo-se comparação com as espécies de Isatis, vê-se que não há semelhança, quanto à forma das folhas; não se compara mal com o basílico, com Cicer ou Lentis, otimamente com as folhas da Colútea. Possuí algumas plantas nascidas de semente das ilhas da América, cujas folhas se assemelhavam a estes índicos; eram, porém, menores, pelo fato de não vigorar em outro clima. CAPÍTULO II Caaghiyuyo. Aminiiu ou Algodon. Tangaraca. Tremate. Arbusto arborescente. CAAGHIYUYO (termo indígena), subarbusto, semelhante a Rubus idaeus em tamanho; o caule é totalmente lenhoso e hirsuto, tendo pares de folhas opostas, hirsutas, moles, levemente dentadas, com três nervos salientes, no sentido longitudinal, entrecortados de muitas veias transversais. Estas folhas são mais verdes, na parte superior, tendo tubérculos na frente e pequenas cavidades atrás; cada tubérculo tem um pêlo alvejante. Em pedículos pequenos, produz flósculos brancos reunidos em cachos, em número de quatro ou cinco, formadas por cinco folíolos. Caídas essas flores, nascem bagas pretas, do tamanho das bagas do simbro (Juniperus), de sabor doce; são comidas pelos etíopes e dão um suco como a murta (Myrtillus).As folhas desta planta pulverizada, aplicando-se este pó às úlceras originárias de causa quente ás cura perfeitamente; nasce em muitos lugares, no nosso Brasil.AMINIIU (termo indígena). Algodon ou Algodaon (em português). É Gossypium. Cresce até à altura da a veleira (Corglus) com um tronco mole e casca como a do sabugueiro (Sambucus); as folhas são tenras e moles, verdes claras na frente, mais carregadas atrás; repartidas em três lacíneas, das quais cada uma tem seu nervo e veias. De um e outro lado, entre três folíolos profundamente dentados e pontuladas, semelhantes aos folíolos, que rodeiam as avelãs verdes, procede uma flor elegante, maior do que a rosa com cinco folhas largas amarelas, com unhas
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado