História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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de comprido e outras tantos de largo; são verdes, glabras, luzentes. Produz flósculos de um pálido escuro, constando de quatro folíolos; em seguida vem o fruto redondo, verde, luzente, como o murucujá, do tamanho de uma maça maior, tendo em cima uma espécie de círculo insculpido e, no centro, três linhas, que tocam numa extremidade em ângulos obtusos. O fruto é cortado, no sentido longitudinal; é oco por dentro; sua casca iguala, em espessura a do murucujá. É composta de duas substâncias, sendo por fora de mínima espessura, lenhosa, por dentro, esponjosa suculenta, branca; a cavidade central do fruto se reporta em três lóculosa interstícios como a noz (juglans); pada um contém quatro (ao todo doze) corpos arredondados, dispostos ordenadamente, clipeiformes, bem grossos, do tamanho do pataco (?); na orla extrema são mais tênues, pelo meio mais sólidas. Cada corpo é coberto primeiramente de uma película uniforme com pontinhos ou tubérculos pretos; esta sendo tirada, aparece a casca lígnea, fusca, semelhante à casca frágil do ovo; na orla é dentada. Quebrada esta casca, aparece o branco interno, que contém um núcleo oleaginoso de um amarelado claro, incluso numa película. Deste núcleo preparam os indígenas um óleo para iluminação, muito claro e excelente; consome-se vagarosamente; não pode ser usado como alimento, porque é muito amargo bem como o fruto.PLANTA (O autor não declara o nome). Cresce até à altura de nove e as vezes dez pés, com a fôrma de um elegante arbusto; caule reto, da grossura do polegar, destituído de ramos na parte inferior, na superior, repartido em galhos. Nesses se acham folhas dispostas como as da malva, em longos pedículos, grandes, hirsutas, embranquiçadas na parte inferior, dentadas nos bordos, glutinosas, como o é também toda a planta. Nas extremidades dos ramos e capitéis hir-sutos, à semelhança da alcéia, nascem flores de notável encarnado com cinco folhas também glutinosas, em cujo centro se salienta um estame, cheio de outros menores como râmulos, que são de cor amarela. Produz esta planta uma semente preta luzidia, oblonga, quase triangular do tamanho do grão do fagopiro. IASMINI. Parece esta planta uma espécie de jasmim (o autor não declara o nome, nem dá a imagem). De uma raiz tênue, tendo em cima um ou outro filamento, ou ainda de duas raízes, lança um caule redondo, glabro, verde, geniculado, internamente meduloso.Junto de cada nó, acham-se duas folhas opostas, sem pedículos, do comprimento de três a quatro dedos, verdes alegres, lisas, com um nervo longitudinal, e costas transversas. Na parte superior do caule, nos entrenós, onde se fixam as folhas, nascem copiosas flores conjuntas, papilionáceas, constando como que de uma só folha larga, que se divide em três partes, umas curvadas para baixo e outra estreita quase continuada ereta. Da flor procedem dois estames amarelados com pontas amarelas; do centro deste, um estamínulo sem ponta; a flor é de cor amarela viva.ERVA (O autor não declara o nome). Cresce até à altura de cerca de dois pés, dividindo-se em muitos ramos; seu caule é redondo e coberto de muitos pêlos finos, brancos; as folhas são colocadas de um e outro lado, em pedículos curtos, oblongas, acuminadas, pilosas. De um e outro lado, em pedículos curtos, brotam flósculos pequenos, reunidos em forma de espiga, de cor sanguínea. Depois das flores, vem uma cápsula como de linho (Linum), quase triangular, mais redonda, tricúspide em cima, parecendo uma fita, na qual se acha a semente.

CAPÍTULO XXIII Pino. Paco Caatinga. Paco Seroca. Anônima. Nhambi Caaponga. Tamoatarana. PINO (indígena). Espécie de urtiga ardente (Urtica urentis). De uma raiz pequena, filamentosa, ergue-se à planta até à altura de oito ou nove pés, com caule estriado, um tanto piloso e grosso. As folhas se acham situadas de um e outro lado, já solitárias, já opostas, fixando-se cada uma por um pedículo de pé e meio de comprimento ou um pouco mais longo, de cor vermelha clara. As folhas são semelhantes à de nossa urtiga; grandes, dentadas na sua extremidade, com dentes triangulares, dotadas de alguns pêlos. Produz em cima vários flósculos pequenos em cachos, providos de longo pedículo de cor branca. (Não encontrei no autor declaração de que natureza ê a sua semente). PACO CAATINGA (termo indígena). Cana do mato, isto é, silvestre, na linguagem vulgar. Tem o caule arundináceo, da grossura de um dedo, redondo, contendo internamente medula suculenta, de sabor adocicado, quase da consistência da cana de açúcar. Rodeiam a este caule, de um e outro lado, umas folhas sólidas sem pedículos, do comprimento de sete, oito ou nove dedos, da largura de três (onde é maior), da figura de uma língua, com um nervo central, no sentido longitudinal, sem veias, no sentido latitudinal, tem umas linhas finíssimas oblíquas, como nas folhas do meerú; em cima, são estas folhas glabras, de cor verde clara; em baixo são molemente hirsutas, e esbranquiçadas. Na sumidade do caule, brota um cone (como no pinheiro), do comprimento de oito ou nove dedos, um pouco mais agudo na parte superior, dotado de escamas como o cone de. pinheiro, as quais nas extremidades proeminentes são de cor áurea; nas pontas justapostas são avermelhadas. Com o sucesso do tempo, aquelas escamas se separam umas das outras e, debaixo de cada uma aparece um lósculo branco, à semelhança de um alvéolo de um favo, de uma cor purpúrea clara. Debaixo da florzinha, acha-se uma cutícula branca, apresentando um saquinho redondo, contendo vinte quatro ou mais grãos de uma semente de cor preta, lustrosa, do tamanho da semente de cebola, multiangular; os grãos são envolvidos em filamentos brancos, como de linho, e a eles aderem. O caule desta planta, mastigado, tira os humores da cabeça e dá calor; dissolve cálculos. Costuma ser chupado contra a gonorréia (chamada pelos portugueses esquentamento); é um remédio notável, porquanto, mastigando-se freqüentemente a cana e engulindo-se o suco, sem nenhum outro medicamento, fica-se curado, dentro de oito dias. Encontra-se uma outra espécie, semelhante à precedente, com exceção de que as folhas não são hirsutas, inferiormente, mas lisas, superiormente, e os flósculos são vermelhos. Como as demais espécies, tem isto de particular, que o cone consta de flores azuis, tendo cada uma quatro folhas.PACO SEROCA (termo indígena). Esta planta se levanta à altura de seis ou sete pés;