História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

Página 42


suco esprimido, em vez de escamonéia, da qual pensam que constitue uma espécie; da mesma fazem tijolinhos com açúcar, que afirmam produzir resultados admiráveis. Outros costumam, depois de haverem macerado, seis dracmas desta raiz, reduzida a pó, em seis onças de água, durante a noite, espremer, coar este preparado e tomar esta água. Eu, porém, misturo a mesma com uma onça ou um pouco mais de xarope de matlalitztic ou salsaparilla ou folhas de sene; desta maneira purga sem moléstia. Quando falta escamonéia, o suco desta planta espremido e solidificado é empregado na fabricação de eletuários, que o exigem. Alguns fazem uso da raiz em forma de unguento ou emplastro contra enfermidade dos olhos. A terceira espécie, nasce, em grande parte, em terra preta e lugares pedregosos, tendo uma raiz mais tênue. De duas dracmas desta facilmente prepara-se um eletuário laxativo com XX dracmas de açúcar tzautli ou tragacantha, com que se purga a cólera e a fleugma; julgo até que não se encontra, na América, melhor remédio. Outros preparam com sua decocçao um xarope, que tomado na quantidade de três onças, purga perfeitamente os mencionados humores. Nasce, em muitos lugares quentes da Nova Espanha, embora seja melhor lugar a província de Mecoacana, onde foi encontrado pela vez primeira; é também comum em Temimiltzingo, onde dizem que esta raiz misturada em igual peso com a cauda do animal tlaquatzin produz admirável efeito, no desenvolvimento da urina. E necessário deixar secar a raiz e conservá-la, o ano inteiro, mas na colheita é preciso evitar uma outra raiz semelhante, que é veneno ativíssimo. Quando nosso autor, a quem seguimos, escrevia, não era bem conhecida esta raiz, como também nem a Nova Espanha; depois foram descobertas outras espécies da mesma, menos enérgicas em operar, embora aquelas três espécies apresentadas por ele sejam mais famosas e mais empregadas. A primeira é chamada Mechoacan por causa do lugar, onde foi descoberta; dela se encontram duas espécies, naquela província e em Guadalajara; uma é venenosa (o que nosso autor recomenda evitar), a segunda é purgante tomada moderadamente; a raiz de ambas é grande, grossa, mas a famosa é maior. A outra espécie chamada Matlalitztic, é muito menos purgativa do que a precedente; alguns sem razão a consideram fria, não reconhecendo pertencer às propriedades dos medicamentos purgativos, não admitirem frieza. Por ser menos purgativa do que a antecedente convém a toda idade e sexo; é administrada sem perigo às senhoras, no período da gravidez. Desta raiz se fabrica um xarope da seguinte forma: tomam-se seis libras de raiz, recentemente colhida; raspam-se, tirada a casca, e se colocam num vaso de vidro; derramam-se por cima outras tantas libras de água da fonte, estando fervendo; tampa-se a boca do vaso; deixa-se tudo fechado, durante o espaço de XXIV horas; espreme-se em seguida e mistura-se com o líquido, assim coado, quatro libras de açúcar; em seguida, cozinha-se tudo com fogo lento, até que se obtenha a espessura do mel; tomam-se três ou quatro onças deste xarope como purgativo.Outra espécie se chama Xalapa termo dado, por causa do lugar onde primeiramente foi encontrada a planta. Esta é mais enérgica do que as outras, embora seja de menor tamanho; elimina em geral todos os humores viciosos, mas deve-se tomar muito cuidado, no dia em que se faz uso dela e no seguinte. Desta também se faz um xarope muito útil, em quaisquer doenças, principalmente, nas venéreas. Prepara-se da seguinte maneira: Tome o unc. V de raízes de Xalapa, unc. II de Polipody, unc. I de Hermodactyl; depois um punhado de flores cordiais lujubarum, duas dracmas e meia de ciamomo ou canela superior e de noz-moscada; soque todas estas cousas e as macere em seis quartários de água, durante a noite, cozinhe conforme a arte até que a metade se evapore; feita a coadura do líquido, ajunte-lhe duas libras de açúcar e ferva até adquirir a espessura de xarope; finalmente quase frio o líquido, adicione oito grãos de almíscar superior. Devem ser avisados os que usam de tais raízes como purgativo que, no dia seguinte, de manhã não tomem açúcar rosado ou água, mas antes um peitozinho de alguma ave ou carne de ovelha assada; do contrário podem os doentes serem vítimas de uma purgação repetida, não sem prejuízo. Encontram-se de todas estas espécies, em grande quantidade, na Nova Espanha. A Matlalitztic tem a maior raiz; dela se aproxima a Mechoacan; muito menor tem a espécie venenosa; tem a raiz maior de todas a Xalapa, mas é mais circular e longa. Todas são quentes e secas, no quarto grau, excetuando-se a Matlalitztic, que moderadamente quente é purgativo benigno; porisso é empregada com maior segurança. Do que acaba de ser exposto conclue-se quanto se deve dar crédito ao que escreveram sobre esta raiz Monardo e Affonso Inojosso. Não diferem estas plantas nas folhas, flores ou frutos, mas em razão do solo, em virtude do qual umas nascem maiores, outras menores; as flores diferem um pouco na cor, que é cerúlea, mas saturada ou então clara. Estas cousas diz ele. Do que diz, principalmente sobre a semente, se pode concluir que a planta descrita por nosso autor não é a mesma que as descritas por Ximenes. Car. Clus. nota, em Monard. cap. LI, que ele, no ano MDLXIX, recebeu da Espanha dois gêneros de semente da planta, que diziam ser a Mechoacan. Uma tinha um calículo ou silíqua com uma semente preta como a escamônia ou convolunli maior; a outra com um pequeno cálix um pouco mais longo, e uma semente vermelha, mais longa e mais tenra; a silíqua de uma e outra era lanuginosa por dentro. Nasceram-lhe, de uma e da outra, plantas que se desenvolviam como o convolunli, em seguida subiam e se agarravam com muitos sarmentos aos vizinhos anteparos com folhas do convolunli maior,