História ou Annaes dos feitos da Companhia Privilegiada das Indias Occidentaes desde o seu começo até o fim do anno de 1636.Vol. 38

Escrito por de Laet, Joannes e publicado por Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional

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em emboscada diante do riacho. Deixaram que a força transviada o atravessasse e mais cerca de 70 homens da companhia de Everwijn, que iam na vanguarda, e então surgiram e atacaram por todos os lados, com a intenção de aniquilá-los; mas aqueles se colocaram numa posição, onde se defenderam tão bem, que o inimigo se afastou deles e foi atacar de novo a tropa que vinha atrás, a qual estava ocupada em atravessar o rio.Como alguns mosqueteiros do capitão Smidt já houvessem atravessado e se tivessem colocado de emboscada, caíram sobre o inimigo, que teve de retirar-se e entrar no mato, donde assaltaram a retaguarda do tenente-coronel, o qual os fez dançar.A nossa gente, achando-se agora no outro lado do rio, reuniu-se numa colina, excetuando alguns, aos quais o inimigo cortara a retirada e aprisionara, antes de chegarem à ponte.Aí estava o inimigo novamente num alto monte, em certo engenho, diante do qual os nossos deviam passar, e mostrava-se muito furioso, fazendo grande barulho com dois tambores e trombetas, e deu algumas descargas contra os nossos, mas sem lhes fazer dano, porque tiraram vantagem de um pequeno bosque, situado ao pé do monte, tendo atrás um ponto bastante descoberto, onde o inimigo atirava fortemente. O tenente-coronel, para prevenir isso, mandou o porta-insignia Vilain, com os mosqueteiros, para expulsar o inimigo daquele ponto, mas receberam imediatamente uma grande descarga de cima, morrendo uns cinco ou seis homens, de sorte que os outros se retiraram à tropa.O tenente-coronel, vendo o mal que o inimigo causava naquela posição, resolveu imediatamente, com os outros oficiais, marchar direito contra o monte e desalojar dali o inimigo, para o que mandou que os soldados tirassem do pescoço todos os sacos com açúcar e outros despojos. Cumprida essa ordem, foram subindo com grande coragem, dando o inimigo nessa ocasião uma descarga de cerca de 10 mosquetes e abandonando depois o engenho, no qual os nossos entraram imediatamente e se reuniram, marchando d'aí em diante até Afogados, sem encontrá-lo mais.Perderam 70 homens, entre mortos, feridos e prisioneiros; mas desses a pareceram depois alguns, e o governador Albuquerque enviou no dia 25 de Outubro 15 prisioneiros, que foram trocados por outros. Como o inimigo se portou, pode-se bem calcular, pela luta palmo a palmo, e também estava prevenido, pois alguém o informava de todos os nossos movimentos.Essa expedição parecerá talvez ter sido muito imprudente; mas deve tomar-se em consideração o bom zelo pelo serviço da pátria.As companhias de fuzileiros, que estavam em Itamaracá, foram até ao Engenho de Gonsalvo Novo, com a intenção de atacar de improviso a gente, que o inimigo colocara ali; mas foram descobertas muito cedo, e tiveram que voltar, ficando assim baldada a viagem.Vamos agora descrever o que sucedeu no mar, por essa época, em tal região.O commandeur Smiendt, com os navios Overijssel, Swol, Phenix e Canarie-Voghel, estava de vigia em frente à Paraíba; foram-lhe despachados mais o Pegasus e o Windt-hondt.